SAUDADE TEM NOME

A Saudade, conforme definição do Dicionário de Língua Portuguesa, é um sentimento nostálgico pela ausência ou desaparecimento de alguém que nos é caro. É uma lembrança ditosa, afetuosa, feliz ou triste de alguém, que por uma razão qualquer, se encontra longe de nós. Fora do alcance de nosso olhar. Sentir saudade é muito ruim. Especialmente porque não há remédio para curar a dor provocada por ela. Mas, embora não exista remédio para curá-la, a saudade não mata. Apenas maltrata profundamente.

De acordo com o jornalista e escritor brasileiro Oswaldo Orico, “a saudade é um sentimento que não chora, canta; que não punge, exalta; saudade não abate, enaltece; saudade não fere, vivifica”.

Quando é profunda demais, a saudade é capaz de provocar sérios danos à vida de uma pessoa. Assim sendo, pode causar insônia, perda de apetite, febre, dor de cabeça e ainda pode levar a pessoa a viver em um estado de tristeza intensa. Segundo o cantor Bob Marley, “a saudade é um sentimento que, quando não cabe coração, escorre pelos olhos”.

Que atire a primeira pedra aquele que jamais sofreu com uma saudade recolhida. Afinal, a saudade é doença para a qual não existe remédio. Como muito bem apontou o poeta Carlos Drummond de Andrade, “o melhor remédio contra a saudade é a falta de memória”. Pena que a gente não perde a memória sempre que a saudade de tão insuportável, começa a apertar dentro do peito.

Para o poeta Patativa do Assaré, “há dor que mata a pessoa / Sem dó e sem piedade, / Porém, não há dor que doa / Como a dor de uma saudade”. E como já dizia o saudoso cantor e compositor brasileiro Raul Seixas, “a saudade é um parafuso / que quando na rosca cai / só entra se for torcendo / porque batendo não vai. / Mas quando enferruja dentro nem distorcendo não sai. ”

Como se vê, a saudade é tema recorrente na vida e na obra de grandes artistas, poetas e pensadores. Para o filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella, "Saudade é aquilo que nos deixa saudáveis, isto é, que permite que a gente faça uma saudação, uma boa lembrança daquilo que já foi e que a gente gosta de fazer passar de novo pelo coração”. Para Cortella, se alguma coisa nos causa sofrimento, isto não é saudade. Segundo ele, “a lembrança que dói, a gente não chama de saudade, chama de nostalgia".

O filósofo ainda explica que a saudade no sentido como conhecemos, é uma palavra exclusiva do nosso idioma. “Mas ela existe em outros idiomas com outros sentidos. Em inglês, por exemplo, I miss you – eu sinto sua falta – no sentido de eu te perdi. Ou em francês a ideia de “souvenir” – que dizer alguma coisa que faz com que você traga junto comigo você naquilo que é, estando presente, por isso não há origem exclusiva."

O filósofo ainda destaca que a saudade é uma emoção capaz de mexer com outros sentidos e, não por acaso, inspira composições de artistas e escritores. A saudade “é um sentimento magnífico de algo que só nós humanos temos, naquilo que a gente conhece, que é a possibilidade de olhar o nosso passado. Recordar, olhar para trás e pensar. É sempre algo que marca o caminho".

Porém, uma boa parcela dos pobres mortais, considera a saudade como algo doloroso, sofrido, ou algo alegre, prazeroso e feliz. Assim, há quem guarde saudade da infância, das brincadeiras de criança, da vida desocupada, do carinho dos avós, dos amigos da faculdade, da descoberta do primeiro amor, enfim, existem muitas razões para se sentir saudade.

Para mim, a saudade não tem definição. Tem RG, CPF, título de eleitor, endereço, profissão, telefone, cartão de vacina, conta bancária e registro no SUS. Esta saudade atende pelo nome de Amor.