Doutor filho de uma mãe moradora de rua
Ela esconde sua angústia e seu sorriso. Sua dor maior era saber que ele podia não cumpriria as metas sociais e profissional, cansa demais. Jurou que faria bem esse papel, ao menos até que na dor pairasse uma névoa de suportável tolerância; quando a falta do sorriso não despertasse a curiosidade sobre o resto.
O resto é o que evita para não ter trabalho. O destino sugeriu que ela não sentia-se preguiça de ser, com o que concordou, em silêncio, sem dar crédito à descoberta ou trela ao descobridor.
O resto sempre vem acompanhado de um plano, que, não raro, é daqueles que o sujeito não tem capacidade sequer de arquitetar, de manter firme, imagine colocar em prática. Ainda assim, causa-lhe certo conforto acreditar que tem um, somente dele, cabível à sua realidade, apesar das nuances das suas emoções.
Emoções são atrapalhadoras naturais de qualquer plano, até porque não é usual que chegue somente uma. Elas andam em bando, são barulhentas. As que mais complicam a situação do plano e, por consequência, de o resto, são aquelas com considerável grau de verdade. Ele tenta desacreditá-las, mas quase nunca funciona. Verdade, quando se revela, gosta de mostrar aos que mentem para si o seu poder de prevalecer.
Em noites de emoções descontroladas, ela se pega tentando dormir, o que geralmente acontece meia hora antes de amanhecer.
Há dias em que o sorriso parece ter sido colado em seus lábios. Não lhe pertence, apesar de ela ter dúvidas se saberia reconhecê-lo se fosse o seu, nascido de algum aprazimento. E se não conseguir desfazê-lo mais? Se o dito permanecer como uma cicatriz destoando da linguagem do olhar, em dias de penúria, fazendo dela uma marionete da ironia?
Ironia é sobrenome da sua dor. Não há dor mais profunda do que a omitida.
Mas logo vai ser um doutor, pela fresta da porta do evento vou ver sua coroação de grau.