Despertador de Duas Rodas
Geralmente a apresentação começa próximo da meia noite - quando muita gente tá dormindo ou quase pegando no sono - e continua madrugada adentro. Não é preciso entender de mecânica para saber que esse barulho insuportável com que eles passam costurando as ruas da cidade não é normal. Foi adulterado alguma coisa. É muito pipoco, tiro sem bala, um despertador fora de hora. Alguém me disse um dia que é alguma coisa na descarga, tirada ou colocada de propósito que produz esse som diferenciado que dá satisfação para quem tá pilotando e perturbação para população.
Não é nem um, nem dois. São vários. Quando um sobe, outros tantos descem. Parecem peixes em época de cheia no Rio Gavião. Se armar uma rede em cada esquina, pega de monte.
Tudo isso me fez pensar em duas músicas, uma delas bastante conhecida, na voz de Caetano Veloso " as vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois..." Que silêncio é esse, que a cada noite estamos perdendo?
Agora eu fico imaginando mesmo é até quando isso vai durar.
A outra, na de Alexandre Pires, Eva Meu Amor, que diz " as luzes já se apagam, a cidade cala e vai dormir ..." Dormir como, Anagé Meu Amor, com um som " maneiro " desse de duas rodas passando na sua rua todo Santo dia?
E agora, Chapolin Colorado, quem poderá nos defender desses causadores de insônia?
Afinal, em toda rua tem um idoso, uma criança, um adulto, que precisa de uma noite tranquila.
Deixo aqui uma sugestão: Ao identificar essa galera da lua, conversa de boa, explica sobre a lei do silêncio, sobre direitos e deveres e libera com um Boa Noite.
Mas se persistir na desordem, leve- os até suas casas, peça educadamente para colocarem as motos em cima do passeio e começar a apresentação.
Quando a madrugada começar
Manda acelerar
Sem sair do lugar
Até a gasolina acabar
Pra sua família acordar
Quem sabe assim eles aprendem a respeitar Quem tanto precisa descansar
Para acordar cedo e ir trabalhar.