Dois Tempos uma Vida
I
Cabelo despenteado.
Pés descalços na lama ou asfalto.
Pernas curtas magricelas.
Pele morena amarela.
Correndo com o vento
ao silêncio realento.
Sol, testas franzidas.
Riso aberto, temos sete anos.
Quanta preocupação com a hora de entrar.
Dava aperto no peito de ver a noite chegar.
Quando do fundo do quintal a mãe se punha a berrar.
Era choro, birra, gritaria, tudo possível pra ficar.
Mais um pouco de pega-pega.
Mais um pouco de esconde-esconde.
Mais um pouco de amarelinha.
Mais um pouco de brincar de casinha.
Só queria ser gente grande pra decidir tudo por um dia!!
II
Cabelo penteado.
De bota, tênis, sapato mais um tropeço na rua.
Pernas longas de fora ou cobertas.
Pele branca quase verde de desbotada.
Correndo contra o vento sem parar.
Ao distúrbio barulhento da cidade agitada.
Sol, óculos escuros.
Rosto fechado, já não temos sete anos.
Quanta preocupação com a hora de trabalhar.
Dá aperto no peito quando agente acha que vai atrasar.
Quando na chegada o chefe se poe a berrar.
É estresse, frustação, raiva e fazendo o possível pra não demostrar.
Mais um pouco de fadiga.
Mais um pouco de discussão.
Mais um pouco de correria.
Mais um pouco de trabalho sem alegria.
Só queria ser criança, pra não decidir nada por um dia!!