Carnaval pós isolamento

Esperei este carnaval por três anos. Tenho fotos e lembranças boas do carnaval de 2020. Ouvia falar de um vírus que estava fazendo estrago na China. Tão distante daqui e tão poucas informações! Sempre amei a alegria e os encontro dos carnavais. Fantasias, alegria, danças, músicas, baterias de escola de samba. Bloquinhos, desfiles. Eu não sei descrever a alegria e o arrebatamento que me causa ouvir uma bateria de escola de samba. É sublime!

Curti muito o carnaval de 2020. Saí todos os dias pelas ruas e bloquinhos, maravilhada com o crescimento e a beleza da festa em Belo Horizonte. Fui em um bloco na Avenida dos Andradas que arrastava uma multidão. Não era possível caminhar sozinha e sair do fluxo. Estava tão cheio que éramos levados. Era um corpo a corpo, sentia a respiração do outro não meu rosto, nuca, ombro. Compartilhávamos até o suor. O suor do outro pregava nas minhas roupas e o meu chegava até ele. Nunca estive em uma situação tão íntima com tantos estranhos. E adorei. Era uma sensação de pertencer, de plasmar com todos. Éramos um bloco só. Era uma massa humana. Não vi uma briga e nem outro tipo de violência. Só alegria e diversão.

Em 21/03/ 2020, menos de um mês depois, foi anunciado a quarentena e daí seguiu todos os horrores que compartilhamos na pandemia. Lembrava daquele carnaval e me perguntava quais foram as consequências daquela festa. Não tínhamos como medir. A pandemia deixou sequelas. Em todos. Algumas conseguimos identificar, outras são subliminares. São angústias e fobias que não sabemos nomear.

Neste carnaval a imprensa convocou a todos, a pandemia acabou, sumiu. A alegria era grande, a festa era bonita. Eu que sou uma foliona desde criança, perdi a graça, fui em dois blocos, mas a magia de antes sumiu. Me preocupei com as aglomerações, em manter distância, não compartilhar banheiros, afastar das tosses e espirros, preocupar com a lata de cerveja que não estava lavada. O carnaval perdeu a magia. Fazer parte da multidão não é mais prazeroso. Seria os anos que passaram ou sequelas da pandemia?

Márcia Cris Almeida

23/02/2023