Ela mora alí na Décio Vergani
Ela mora alí na Décio Vergani
Abro a janela e lá está ela...
Bela, exuberante e dançando ao som do uivar do vento princesinha, como uma bailarina esguia e sabedora de sua competência naquilo que faz. A rua ora tranquila, ora barulhenta não interfere em sua pose. A qualquer hora que passo próximo à janela, dou uma espiadela e pimba! Mais uma novidade.
Semana passada, duas senhorinhas vinham do mercado e ao passar por ela, pararam, bateram um papo e olhavam para ela de cima em baixo como se quisessem descobrir os segredos daquela energia tão forte que as fizeram parar. Ontem, ainda pela manhã, um senhor de meia idade vinha passando e ao encontra-la parou, tirou o chapéu e se abanou enquanto admirava a beleza e o frescor que ela exalava naquela manhã tão quente.
Ah essa minha janela! Já nem chego tão próximo a ela... Mas dou aquela olhadinha mesmo que seja de soslaio para ver qual é a novidade do dia.
Hoje, logo cedo ao chegar próximo à janela, passava uma menina que parecia ter uns onze anos... Vinha subindo a rua tranquila com uma sacola de pão. Ao chegar perto dela, parou, olhou pra ela, olhou para os lados como se não quisesse testemunhas e como não havia mais ninguém, colocou a sacola de pão no chão e deu um pulo em seus braços longos e curvados, deu várias cambalhotas e como se nada tivesse acontecido, ajeitou a saia, pegou a sacola de pão e seguiu saltitando.
Assim, a cada dia vou descobrindo novas paisagens que essa linda árvore oferece do outro lado da minha janela nesse meu cotidiano.
Ela continua lá... Linda, gorda, esguia, exuberante, oferecendo o prazer a quem se abriga em sua sombra, a quem descansa sob o frescor de seus galhos que dançam ao sabor do vento,
às crianças que sabem viver com sabedoria a sua infância e aos pássaros que pousam, cantam e nela constroem seus ninhos.
Ge Fazio