Itapaci e a língua Portuguesa
Itapaci e a língua Portuguesa
Enquanto desfilava perante meus olhos todo o tipo de cena do que se encontrava à beira da estrada, meu pensamento se perdia nas distâncias do espaço e do tempo, procurando reunir fatos, situações e acontecimentos que preenchiam as recordações de um viajante.
Quando, naquele ano de 1980, resolvi, pois necessitava viajar para o norte, onde deveria resolver assuntos que se encontravam pendentes na cidade de Imperatriz, tinha como companheiro e carona motorista um colega de faculdade que hoje talvez já se encontra esquecido da maioria das pessoas que o conheceu.
Bem cedo a morte viera lhe cobrar o carma pendente e conseqüentemente desencarnara ainda bem jovem vítima do famigerado “câncer” que tantas pessoas tem levado deste mundo.
Bem, deixando os aspectos filosóficos de lado, apenas ficarei circunscrito aos fatos que ocorreram durante a nossa viagem que além de pitoresca, passou a ter uma certa conotação de anedota.
Saímos bem cedo de Goiânia e a pedido do Danilo, colega e companheiro de viagem, ficou resolvido que passaríamos pela cidade de Itapaci, onde ele tinha um irmão que trabalhava no Inss.
Logo que entramos na cidade comecei a rir, quando em placas e muros via os absurdos e abusos contra a nossa língua que são cometidos todos os dias nesta imensidão de país e a maioria nem mesmo repara. Muitos não vêem porque nem mesmo sabem o que é certo e o errado na grafia das palavras.
De tudo que vi e lembro, passo a destacar o “ Assoge do Zé”, a “ cabelaria e barbaria do Lorenso”, a penção da dona fia”, o “ simiterio” da cidade se destacava em letras enormes no muro do mesmo . De uma cor avermelhada.( parece que a cor vermelha seria de vergonha de tanto absurdo) Enquanto ele dirigia rumo ao inss, que naquela época chamava-se INPS onde deveríamos encontrar seu irmão, eu observava e degustava a salada cultural que tinha um gosto indigesto de burrice e mesmo falta de cultura.
Logo após passarmos pelo cemitério (escrevi correto), passamos pelo “concerto de calsados”, pela “çorveteria” e, finalmente chegamos ao nosso destino onde o irmão do Danilo trabalhava. Anos depois fiquei sabendo que o jovem irmão do meu colega havia falecido de câncer, quando ainda nem chegara aos trinta anos de idade.
Enquanto meu pensamento tentava analisar cada palavra, bem como tentava entender o que deveria pensar o responsável pelos absurdos perpetrados contra a nossa língua, lembrei-me do “seu Maia” meu tio, que em virtude de sua profissão de alfaiate, contara-me a seguinte piada.
“Um certo sujeito viajava, entrou em uma cidade e depois de várias palavras escritas incorretamente, com erros crassos de português, viu um placa onde se lia”alfaiataria águia de ouro”. Desceu do carro, se dirigiu ao dono do estabelecimento comercial e com a seguinte frase disse:__ parabéns, depois de andar por toda a cidade, vendo os constantes abusos contra a língua portuguesa, notei que o sr. escreveu certo o nome do seu estabelecimento. “ alfaiataria águia de ouro”.
O humilde alfaiate, depois de ouvir as palavras do viajante, responde de forma pausada e com certo tom de reprimenda:__ O senhor está enganado, o nome de minha alfaiataria não é águia de ouro e sim agúia de ouro.
Quando me lembrei da piada que o meu tio me contara, um sorriso maroto surgiu em meu rosto e diante da insistente pergunta do companheiro que estava do meu lado, em saber do que se tratava, eu lhe respondi: __ Não se preocupe são apenas recordações.
E agora que o carro transita novamente, por rodovia, porém com rumo diferente, passou por minha cabeça o fato acontecido já a mais de 23 anos e que agora relembro. Enquanto meus pensamento se alinham, outras pessoas continuarão a se servir de toscas palavras para exprimir o seu modo de ver e sentir o mundo em que vivem.
Eu, no entanto, apenas transcrevo através das palavras, recordações de um tempo que ficou para traz, mas que com certeza ainda irá ser relembrado.
04/05/04-