REMINISCÊNCIAS . . .

Eu estava com meus 14 anos, morando com meus pais em Teresina, no Piauí, fazendo a quinta série do ensino fundamental. Saí da escola na Rua João Cabral, no Pirajá, era a escola Monsenhor Zaul, que antes era Oscar Clark, não entendi o motivo da mudança do nome, mas, enfim, fui estudar na unidade escolar governador “João Clímado D’Almeida” na Avenida Campos Sales com a Rua 13 de maio, no centro da cidade. Não havia ônibus escolar e nós íamos à pé, eu saia de casa uma hora antes da aula, lá da matinha, próximo ao iate clube, até a escola João Clímaco de Almeida, brincando de fazer os barquinhos de papel deslizar nas águas do esgoto de águas pluviais e ver qual venceria, caindo primeiro no bueiro. Pura brincadeira de quem não queria nada ainda com a vida séria!

Essa escola ficou marcada na minha vida por conta dos acontecimentos que ocorreram enquanto estudava lá. Era o ano de 1978 e lembro que, como me destacava na escrita e na leitura, além da boa oratória, fui escolhido e convidado pelo professor Brasil para discursar para o então governador Dr. Dirceu Mendes Arcoverde, por conta de materiais escolares que ele iria entregar na sede do complexo escolar zona norte I, ao lado do estádio Lindolfo Monteiro, conhecido também por unidade escolar Benjamin Baptista, na Rua Jônatas Batista, o que aconteceu alguns dias depois. Naquele dia, pra minha decepção e tristeza o governador não pode comparecer, discursei para a esposa dele, que o representou.

Era uma escola relativamente nova, mas, havia muitos problemas estruturais e um deles era umas tremendas rachaduras nas paredes que comprometiam toda a estrutura da construção de uns dois ou três andares, não tenho muita lembrança, de quantos pisos.

Não havia escada, eram rampas de acesso até as salas de aulas. Eu gostava de estudar lá por ser uma escola moderna, a área, no hall de entrada onde ficavam os bebedouros, a cantina, secretaria, diretoria, os banheiros e o pátio pro lanche, tudo sempre bem limpo e organizado. Lembro bem do monitor era senhor Raul, homem bom e humano. Na parte lateral esquerda ficava a área livre onde tinha uma quadra e areia, era ali que fazíamos educação física, lembro também que havia uns dois grandes pés de manga.

Certo dia após uma forte chuva, enquanto passava um avião com um barulho horrível das turbinas alguns alunos, com medo, gritaram que o prédio estava caindo, então, todos se desesperaram e empurrando as carteiras, deixando-as cair, produzindo barulho maior ainda, entraram em pânico e saíram correndo, descendo a rampa desesperados, caindo, pisoteando uns, machucando outros e gritando muito. Lembro-me da cena e até hoje me arrepio devido ao pavor que senti naquele dia, confesso uma furtiva lágrima a cair agora... Marcou tanto a minha vida que ainda hoje, quarenta e quatro anos depois recordo como se tivesse acontecido semana passada.

Uma garota ficou ferida gravemente, caiu, bateu a cabeça e ainda foi pisoteada, teve traumatismo craniano e não sei se sobreviveu, só recordo a cena terrível, que para mim, ainda menino, ficaria para sempre na memória.

Para piorar a situação as autoridades, irresponsavelmente, não tomaram providências e isso se repetiu por mais duas ou três vezes posto que os alunos, todos pré-adolescentes, estavam apavorados ao extremo e outros mais, os pais já retiraram da escola.

Motivo de matérias em jornais, rádio e televisão, o episódio, repercutindo assim, fez com que o setor responsável tomasse consciência da situação e, finalmente, no início do ano de 1979 fomos transferidos para a unidade escolar João Costa, ao lado do ginásio Verdão, na Rua Jônatas Batista. Não sei se por conta do trauma, mas, fiquei reprovado naquele ano, na quinta série. Fiquei nessa escola até julho e em 10 de agosto de 1979 fui estudar em um internato no interior de Pernambuco, na cidade de Belém de Maria, o ENA.

Mas a escola ainda está lá, nunca caiu! Talvez esse fato fora só pra marcar mesmo a minha história de vida e poder contar hoje aqui pra vocês.

Poeta Camilo Martins

Aqui, hoje, 25.02.2023