Nova Friburgo
Foram necessários mais de vinte anos para descobrir que ter uma casa na serra e morar na serra são coisas completamente distintas. Vou explicar: na segunda metade da década de 90, com as filhas na faixa dos 14 e 15 anos, achamos que seria uma boa ideia comprar um apartamento (ou chalé, como se dizia por aqui na época) em um condomínio fechado, num bairro de bom nível, sossegado, seguro e pertinho do centro de Nova Friburgo, com tudo o que tem direito como piscina, sauna, quadras polivalentes, salão de festas, bosque, água de nascente, o que você imaginar (parece anúncio de corretora…). Para melhorar era (e ainda é) cercado de florestas por três lados, um luxo adicional.
Pois bem, na reta final a construtora quebrou, a entrega do imóvel atrasou, gastamos além do previsto, mas como devia estar escrito nas estrelas, tudo terminou bem e começamos a subir regularmente quase todos os finais de semana para aproveitar o ar gostoso e limpo da serra fluminense.
Infelizmente adolescentes são volúveis e crescem. Com o passar do tempo, as meninas descobriram outros interesses e as idas para Friburgo começaram a rarear. No entanto, eu e minha mulher insistimos e sempre que possível e apesar do frio, batíamos regularmente o ponto aqui na serra. No inverno era uma festa, muito frio, lareira, fondue e vinho eram nossos parceiros constantes.
Como era de se esperar, as filhas tomaram seu rumo e ficamos, minha mulher e eu, sozinhos no Rio, uma cidade com seis milhões de habitantes, cara, insegura, desorganizada, barulhenta e poluída. Percebemos que o bichinho do interior já havia nos mordido. Um belo dia, olhamos um para o outro e nos indagamos:
-Por que não estamos morando em Nova Friburgo?
Pois é, sem nenhuma resposta racional que justificasse nossa permanência na antiga cidade maravilhosa, fechamos o barraco carioca e no dia 15 de novembro de 2017 tomamos posse da nossa casa na serra, desta vez, se Deus quiser, para sempre.
Depois desse textão todo, posso responder que morar em uma cidade pequena, a meio caminho das Minas Gerais, a mais de duzentos quilômetros da capital, traz a tranquilidade andar calmamente nas ruas, conhecer todo mundo, ter a facilidade de pegar o telefone e fazer a compra do mês no seu mercado favorito. Respirar ar puro. Tomar banho de rio cristalino. Lumiar e São Pedro da Serra a apenas alguns quilômetros de casa.
Vou parar por aqui, amigos. Já está entardecendo e daqui a pouco é hora de sentar-se na varanda e assistir ao sol se pondo atrás da mata que abraça o condomínio. Apreciar o calor ameno (pelo menos para um carioca e uma cuiabana) que, depois de tantos dias gelados, voltou a dar o ar de sua graça. Trocar um dedo de prosa com os vizinhos. Abrir um vinho tinto para comemorar uma conquista muito importante, ainda mais na nossa idade: qualidade de vida.
Enfim, morar na serra? Recomendo de olhos fechados!
(2019)