O ABISMO DA INUTILIDADE

Antes que eu esqueça completamente tudo, até mesmo quem sou, além de meus amados e queridos familiares e as coisas boas que vi, ouvi e vivi, muito antes disso acontecer, continuarei escrevendo, relatando, poetando, narrando, versejando. Aproveitarei cada minuto da plenitude cerebral antes da possibilidade de uma pane fazer de mim o retrato da inutilidade. Existe probabilidade desse mal ocorrer? Não sei. Mas somos humanos e qualquer de nós está sujeito a tal abismo.

Porque o tempo pode ser traiçoeiro e gradual nas suas intenções, sem percebermos ele vai nos desligando, desconectando, cortando as relações das sinapses até um ponto em que o apagão eclode para nos transformar em vegetais dependentes do amor e dos cuidados de pessoas que nos amam. Mas das quais não lembramos mais e nunca tornaremos a lembrar. A partir dessa encruzilhada nunca mais haverá volta.

Por conseguinte, enquanto os anos me são favoráveis, o cérebro funcionar a contento, meus atos cognitivos forem translúcidos, conseguir ser coerente, lúcido e inteligível no uso do dom recebido de Deus, usarei a memória para produzir textos, tantos quantos a imaginação permitir. Dia após dia, ainda que ninguém leia, comente, elogie ou critique. Pois, embora de forma fraca, parca e mediana, é o pouco que ainda sei fazer.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 24/02/2023
Reeditado em 26/02/2023
Código do texto: T7726919
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