E quem não quer comprar carro?

A notícia era alarmante: a geração Z já não quer comprar carro! E então se desfiava o drama das montadoras, que devem começar a demitir. Ora, eu não faço parte da geração Z, mas me considero na vanguarda desse movimento, já que desde os anos 2000 eu não quero comprar carro. E digo mais, nunca nem tentei tirar a carteira. Dirá alguém que é o medo de dirigir, mas não, é apenas o tédio de ter que gastar e me preocupar com a manutenção do veículo.

Se estou em um ônibus e ele estraga, eu xingo o motorista, a empresa, o governo, mas não me preocuparei nem um momento em consertá-lo. Não entendo nada de peças, de ferramentas, de acessórios, o mínimo que se espera de alguém que tenha um carro. Tudo o que quero é ir de um lugar a outro, seja como for. Infelizmente, o pensamento não é suficiente para tais deslocamentos, mas, quanto menos eu tiver que me preocupar com coisas mecânicas, melhor.

E também tem o seguinte, eu nunca juntei dinheiro suficiente para comprar um carro. Sei que todo mundo compra em várias vezes, mas eu sou uma das duas ou três pessoas no país que até hoje só compraram coisas à vista – é por isso que eu não tenho praticamente nada. Mas é verdade que sou, também, uma das duas ou três pessoas no país que nunca tiveram dívidas. E a geração Z nem está dando conta de parcelar! Ah, sentem-se aqui comigo, sentem e chorem.

Seria eu um entusiasta do Uber? Olhem, eu já andei em Uber, mas o Uber pedido pelos outros, nunca por mim. Se fosse eu a escolher, a gente iria de ônibus, a gente iria de bike, a gente iria a pé, a gente nem iria, mas o Uber só em emergências (parto ou pai na forca). Nunca entendi a história de que o Uber é mais barato – por acaso pagarei menos que os 5 pilas da passagem? E quanto ao tempo de leitura no ônibus? E quanto à diversificada fauna das viagens de ônibus?

Sou, logo se vê, bem estranho. E agora ainda querem me colocar a culpa pela demissão nas montadoras! Ah, geração Z, aguardemos com paciência a invenção do teletransporte.