Borbulhas de sabão em pó!!
EU sou conhecida por ser arteira. Isto meus amigos já sabem.
Minha mente sempre fértil vivia fervilhando de idéias para ocupar o tempo de sobra que tínhamos à tarde.
Outra geração. Geração que não tinha vídeo game, programa de TV? Apenas um canal. Interior, zona rural. Pouquíssima coisa a fazer, além de subir no celeiro, correr atrás das vacas e atazanar os cachorros da vizinhança.
Vez ou outra minha mãe era obrigada a correr o risco de nos deixar sozinhas,precisava fazer super, ou outra coisa qualquer na cidade.
Certa vez, ela saiu logo depois do almoço, tínhamos apenas a missão de lavar a louça, tudo bem quinze minutos e já estávamos liberadas para brincar.
Uma de nossas brincadeiras prediletas era brincar “de moças”. Como era? Nós vestíamos as camisolas de nossa mãe, eram lindas, todas longas de cores e texturas suaves, algumas tinham babados e até brilhos.
Não satisfeitas precisávamos dos saltos altos para completar nosso glamour. Andávamos pela casa a arrastar os sapatos dela, e fingir que fumávamos igual as estrelas da TV, para isto usávamos canetas, pequenos pauzinhos, qualquer coisa que fosse mais parecido com cigarros.
Lembro que era um dia quente. Éramos moças que moravam em mansões, tinha piscina, mordomo, carros luxuosos, e todo o aparato.
Neste dia a piscina deixou de existir apenas no nosso imaginário.
Nossa mãe tinha uma caixa d’ água, que ficava sobre uma pequena plataforma, de pouca altura, apenas o suficiente para que os cachorros e gatos da casa não colocassem o nariz curioso a fim de xeretar e possivelmente sujar a água.
Esta era usada para lavar roupa, molhar a horta, e quando faltava luz e o poço artesiano não funcionava, minha mãe a usava até para fazer comida.
Bom, queríamos uma banheira muito chique, cheia de espuma. Não tivemos duvidas munidas de nosso banquinho subimos na despensa e passamos à mão no sabão em pó. Este de nossas mãos passou direto para a caixa de água. Colocamos todo de uma vez, quanto mais espuma melhor!!!
Realmente ficou o máximo, conseguimos o que queríamos. Colocamos nossos biquínis, passamos à mão em nosso banquinho, e pulamos na água borbulhante de sabão em pó.
Passamos a tarde toda ali, só saímos quando minha irmã começou a sentir uma ardência nos olhos.
Entrou sabão porque é claro, em determinado momento perdemos nossa compostura de moças elegantes e passamos a nos engalfinhar como era de se esperar.
Minha irmã quase cega se pôs a chorar. Tudo bem fomos para o banho, desta vez de chuveiro.
Quando minha mãe chegou, a espuma ainda não havia se dissipado, e aprova do crime escorria para fora da caixa.
E nós, nos coçavamos toda, uma vermelhidão pelo corpo e uma sensação de ardência. O sabão em pó estava fazendo efeito, a alergia que tomou conta de nossa pele estava insuportável.
Mais tarde quando meu pai chegou, mal teve tempo de largar sua bolsa de trabalho, para sair com nós atrás do farmacêutico da cidade. Que por sinal já conhecia as meninas arteiras, (uma vez ele teve que costurar o meu queixo), mais uma arte que terminou com meu pai e minha mãe, tendo que correr atrás de socorro.
Minha mãe me lembro bem,( não poderia esquecer por que além do bum bum quente ficamos também com os ouvidos inchados) de tanto ouvir suas broncas, ficou uma semana, talvez até mais a lavar e enxaguar a caixa a fim de tirar o sabão em pó!
E além de ter que limpar nossa bagunça ainda tinha que nos besuntar de pomadas e ouvir nossos choramingos à noite, quando o corpo esquentava e a ardência e coceira apertavam, para valer!