Orgulho da pele negra
(*) Antônio Coquito
Constantemente, presenciamos ou assistimos a comportamentos
racistas invadirem nosso cotidiano. Ficamos sabendo, porque a mídia
divulgou ou um amigo contou. E, quantos ainda estão secretos? São
tantas Marias, Lourdes, Josés e Manoéis; enfim, pessoas que são vítimas de uma ignorância racial instalada na sociedade. Vítimas do preconceito que, muitas vezes, passa como se nada tivesse acontecido.
O duro é ter que entender as idiossincrasias do racismo, e principalmente a sustentabilidade deste cenário multiracial brasileiro.
Não há como negar, a miscigenação nos tornou irmãos numa mesma e
diversa cultura. E, com certeza, a realidade que a deu vida, os modos
sociais do nosso imenso Brasil têm relações e afinidade com a mãe
África.
Os anos passam e nós ainda encontramos comportamentos medíocres
sustentando a sociedade. Deparamo-nos com tamanhas ignorâncias
cotidianamente, consideradas “bobeirinhas”, “coisas menores” para
regras de convívio social que devem merecer reflexão no caminho de
superá-las. Mas, estes são convites inquientantes e provocativos a
nossa urgência para a mudança radical de comportamentos.
A pele é uma membrana responsável por cobrir somente o exterior do
ser humano. Nos casos de preconceito racial, ela ganha o sentido de ser
a própria pessoa, com direito de ser julgada e condenada pelos
preconceituosos de plantão. E o indivíduo que é muito maior? É um
universo esquecido?
São positivas, mas as insistentes conscientizações não eliminaram a
conotação depreciativa de julgamento humano. Estas, muito mais forte
nas que a cor da pele adquiriu. A luta dos movimentos, dos artistas, de
bandas como Cidade Negra etc nos levam a lançar um olhar sobre a
questão do preconceito.
“Olhando dentro dos seus olhos,
Eu vejo a minha própria imagem
Que iguala nossos sentimentos
Vontade de liberdade
Procuro com meus próprios meios chegar
No fundo dos meus sentimentos
Seus filhos todos separados
Apartheid não tem fundamento”.
Esse erro se alastra desde os primórdios ao condenar os negros como
“inferiores” e, ainda, não apagamos a chaga histórica. O desafio é de
todos. Diz o ditado popular “ é preciso cortar o mal pela raiz”. Esse é um mal que se arrasta pelo Brasil, contaminando a cabeça das pessoas. O preconceito racial está arraigado.
Resta a reflexão: falar de racismo no território brasileiro é negar o
abraço à cultura que lhe deu caras e faz pulsar corações - o sofrido
continente africano. Caras, corações; brancos, índios, pardas e negros, cada qual oferece um pouco. Esta beleza da pele faz a riqueza do cenário : Carnaval, folclore, músicas, danças, alegria etc. Contribuição que a pele negra fez e faz acontecer neste imenso caldeirão cultural chamado Brasil.
Antônio Coquito