"VIADOS" IMPLOSIVOS

Já passei por situações irritantes que antes me tiravam do sério, hoje me fazem rir. Entre tantas, ser tratado como “senhora” em algumas ligações telefônicas por causa da minha voz aparentemente mais delicada. E ser chamado de “viado” pela situação anterior e por eu ser um sujeito de hábitos e gestos delicados, fala mansa e um jeito meio desengonçado de caminhar. Hoje, no alto dos meus não tão sábios mas calejados 5.0, aprendi a ligar o Foda-se, como ensina o livro famoso que li há alum tempo. Eu e quem faz amor comigo sabemos que não sou o bicho silvestre em vias de extinção, que por sinal não sei por que foi comparado a um gay, pois copula com sua fêmea e produz veadinhos. Perdoem a minha falta de modéstia, mas se todo “viado” fosse como eu, não teria tantas mulheres insatisfeitas por aí, procurando em outras mulheres o que não encontram com os machões de plantão. Estes, muitas vezes não passam de uns enrustidos que roncam grosso mas no fundo adoram um consolo de 25 centímetros lá onde o sol não bate. Esclareço aqui, antes que eu seja chamado de homofóbico, que respeito a opção sexual de cada um, uma por que sou assistente social e outra por que conheço muitos GLS que só merecem meu carinho e respeito. Apenas usei os termos para refletir sobre uma situação que antes me incomodava, hoje me faz rir, com ironia.

Por outro lado, tenho uma característica que me incomoda e muitas vezes me faz sofrer: sou travado para demonstrar emoções, principalmente na frente dos outros. Isso passa uma falsa ideia de que sou insensível. O maior exemplo foi no velório de minha mãe. Ela foi e continua sendo minha referência, meu exemplo, meu maior amor e muitas vezes minha conselheira, ainda que no momento eu só a veja nos meus sonhos. Fui “solteirão” e morei na casa dos meus pais até quase quarenta anos. Por isso, depois que meus irmãos casaram, nos fazíamos companhia, passamos por situações brabas, mas também nos divertimos muito juntos. No velório e enterro de minha mãe, passei o tempo todo teso, alheio, apático e, aos olhos de quem não me conhece como eu mesmo, insensível. Isso continua até hoje. Sou como o personagem do livro Garota Exemplar: por fora, pareço o mais tranquilo dos homens. Dentro do meu porão – barriga tenho toneladas de fúria e desespero prestes a explodir.

Por mais que eu tente ligar o foda-se com relação à situações relatadas no primeiro parágrafo, a verdade é que, com relação à segunda opção, eu gostaria de às vezes esbravejar, me debulhar em lágrimas em público, demonstrar meus sentimentos.

Por que implodir é pior que explodir. Na explosão, algumas paredes caem, algumas pessoas sofrem lesões, mas nada que um pedreiro não possa reerguer ou um pedido de desculpas não possa consertar pelo menos parte do estrago. Na implosão, a aparência externa permanece intacta. Mas por dentro, há paredes rachadas, quartos trancados onde fantasmas habitam, fossos obscuros onde almas penadas gritam por socorro, palavras ansiando por serem libertadas, dores intensas que na aparência ninguém percebe, mas corroem a alma mais do que o mais potente dos venenos.

Mas não quero que este texto soe como pessimista, pois quero crer que algumas pessoas apreciam o que escrevo aqui ou em minhas redes sociais. Estou longe de ser um exemplo de otimismo, mas tento não transparecer o que me vai por dentro. Afinal, sou o resultado de minhas escolhas e quem aceita isso está mais perto, se não da serenidade e da paz, pelo menos da aceitação de si mesmo, com todos os defeitos e qualidades.