Quarta é Cinzas
Quarta é Cinzas
Quarta é cinzas, o cantor executa um hino qualquer e a turba enlouquece.
Quarta é cinzas e o rapazinho está espremido na fila do banco entre a pressa e a turma da prioridade.
Quarta é cinzas: um acarajé frio e sem camarão dá lugar ao pão com manteiga comido gulosamente na esquina da padaria pela top que vai à praia.
Quarta é cinzas, o cantor escolhe mais uma do seu repertório em expansão, confere a hora e manda ver.
Quarta é cinzas, a turba agora é legião: manda arranjar gelo por aí, vai!
Quarta é cinzas: descongela o acém; quem vai buscar os meninos na escola? — mas isso é somente amanhã...
Quarta é cinzas, repare no cantor: é ele quem está chamando todo esse povo, toma o seu celular!
Quarta é cinzas, o dia vai se arrastando como vai arrastando o saco de latinhas vazias aquele ancião lá fora que já teria idade para se aposentar.
Quarta é cinzas, melhor não escrever bebendo, invertidas são as narrativas e confusas são.
Quarta é cinzas, chama o cantor, toca aí brasileirinho, mas estou sem uma prima, alega.
Quarta é cinzas, vejo o rosto do cantor se aproximando de um murro quadro a quadro: prima o caralho, já tem gente demais, quer trazer prima!
Quarta, finalmente, é cinzas; aspirinas, urgente!