Das Minhas Lembranças 53
Em 1987 editei e publiquei Três Estações, com o prefácio de Francisco Marques, o Chico dos Bonecos:
AS TRÊS ESTAÇÕES DO POETA NO MUNDO
No seu primeiro livro, NAS ÁGUAS DO ARRUDAS, Estanislau já anunciava a sua poesia com momentos brilhantes como este:
ROBERTO
menino disperso
cabeça nas nuvens
pensamento no vento
olhar que não vê
sorriso distraído
menino atento
cabeça azáfama
pensamento ao léu
teu olhar é arte
teu sorriso inventa
em qual estória em quadrinhos pensas
quando esqueces o para casa?
que estória inventaste pelo caminho
que te fez esquecer o recado?
menino, invente estórias
deixe a imaginação tomar conta de tua cabeça
continue assim te amo assim
distraído, sensível, cabeça nas nuvens
coração na mão.
É importante reler este poema, porque é a síntese do seu olhar comovido e indignado, mas acima de tudo mágico. E este seu novo livro, TRÊS ESTAÇÕES, vai aprofundar esta visão mágica de forma especial: o poeta busca a companhia do leitor, para atravessar, de mãos dadas, as três estações de sua experiência poética, que é, fundamentalmente, no caso de Estanislau, a sua experiência de vida. Sua e nossa também, de muitos, poetas com ou sem palavras.
Na PRIMEIRA ESTAÇÃO, o poeta - ao mesmo tempo autor, personagem metáfora - está amarrado, retorcido num amaranhado de dúvidas e impasses. E declara:
"prefiro pescar até o cansaço tomar conta do meu corpo" (A Pescaria).
Na SEGUNDA ESTAÇÃO, descobre os traços de luz revelando novos objetos e pessoas. A luz ajuda a se revelar na revelação do outro. O poeta já fabrica a sua própria luz:
"era preciso encontrar, não o seu passado, mas o momento presente, o novo homem que surgira." (O Viajante II).
Aqui ele anuncia, sereno e "indomável": "o que fizeram do amor é tudo mentira." (O Amor).
Na TERCEIRA ESTAÇÃO, o poeta abraça a vida, descobre o seu lugar no mundo, no "deslugar" dos que ousam ser estranhos e teimosos. Transfigura a realidade porque agora, o "novo homem" refaz o trágico e o amargo através do olhar mágico do poesia. Exemplo maravilhoso e maravilhado desta sua nova visão de mundo: o poema O Consertador de Guarda-Chuvas". E outros: "Espetáculo Pirotécnico", e "A Praça".
Eu, você, nós leitores, de mãos dadas com o poeta Estanislau, somos convidados a atravessar estas TRÊS ESTAÇÕES e ser capazes, agora como nunca, de reparar "o que quase ninguém repara "como daquelas mãos trêmulas ele consegue dar pontos, prender barbatanas..." (O Consertador de Guarda-Chuvas).
O convite está feito. Vamos?
*Francisco Marques*
Escritor, poeta, ventríloquo, manipulador de bonecos e diabolô.
O meu segundo livro teve uma edição mais caprichada que o anterior, com capa colorida e ilustrada por Eliana. O miolo acolheu ilustrações de meu filho Roberto Caio. O lançamento aconteceu no Sindicato dos Jornalistas. Houve também um segundo lançamento no Palácio das Artes. Ambos em Belo Horizonte. Lúcio Costa, dono da empresa Suggar, onde trabalhei por quase dez anos, adquiriu cerca de cem exemplares e distribui aos funcionários, o que praticamente me garantiu o pagamento da edição de mil exemplares.
Primeira Estação
Seu olhar percorre a paisagem,
observando os locais...
Leva consigo lembranças de cidades,
pessoas e cais
Segunda Estação
Você tem a profundidade do oceano,
mistérios que não ousa revelar,
quero mergulhar em suas águas
e os seus segredos desvendar
Terceira Estação
Quando seu coração se abrir
para o mundo
seus olhos serão sementes
germinando luz