CINZAS

Pelo calendário litúrgico da santa madre igreja, hoje é o dia da imposição das cinzas.

Esse costume dos judeus, símbolo de penitência, foi incorporado ao cristianismo a fim de que os “pecadores” entrassem na quaresma com a lembrança do que foi determinado em Gen. 3:19 – “Você vai ter de comer o pão com o suor do rosto, até voltar para o solo do qual foi tirado. Você é pó, e ao pó há de voltar”*

Depois de se esbaldarem nos festejos de Momo, aquele ser mitológico que foi expulso do Olimpo por ser irônico e sarcástico para com os deuses e que se apresenta gordo simbolizando a fartura e o prazer sem limites, os religiosos de tempos idos iam até as igrejas para receberem, na testa, a cruz de cinza e ouvir do padre celebrante a condenação – memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris – mas tenho cá minhas dúvidas de que algum deles soubesse exatamente o significado daquelas palavras.

A partir de hoje teremos os quarenta dias que antecedem a páscoa que, como define a palavra em hebraico – pessach – representa a passagem:

Para os hebreus, do cativeiro no Egito para a liberdade em Israel;

Para os cristãos, da vida em pecado para a graça divina.

A tradição, descartada dos dias atuais, recomendava moderação em todas as atividades, jejum, orações, recolhimento e proibia o consumo de carne vermelha. Lembro-me bem que a minha avó vestia luto nesse período e mantinha fechada a porta da frente da casa em que morava. Falava-se em tom baixo, só ligava o rádio as 18h para ouvir a oração do terço oficiado pelo bispo Dom Antônio (apelidado “bispo Coca-Cola” por ser onipresente em quaisquer festividades oficiais ou não).

No Recife, os pratos maravilhosos de frutos do mar que fazem a culinária tradicional dessa época, felizmente, ainda não foram descartados, mas pela desorganização familiar e degradação dos costumes, temo que as próximas gerações não tenham a oportunidade de conhece-los.

CITAÇÕES

Dom Antônio de Almeida Moraes Júnior – arcebispo de Olinda e Recife de 1952 a 1960

Nova Bíblia Pastoral, editora Paulus, 2014