PASSANDO O PASSADO
O passado acaricia sem pressa, sem atropelos, sem rodeios,
cutuca o chão, atiça sons, descortina sombras,
deixa o tempo bamba, desanuviado, coalhado.
O passado morde, descabela, destitui,
ancora ao que não temos, calidamente,
é cruel nas lições, nos agrados, nos arranhões,
vem à tona repleto de músculos e vãos.
Do passado pescamos musgos e cicatrizes,
berramos pra alma acordar, se mexer, espreguiçar,
fazemos o diabo pra não virarmos de costas.
Passado é alvissareiro, cheiroso, aguçado,
sabe de cada pegada, cada derrapada, cada lágrima,
é medalha incandescente que nunca desiste de ser,
de entender, de perdoar.