MARACUTAIAS

Essa palavra expressa bem a cultura que se instalou na mente de muitas pessoas que vivem nesta terra chamada Brasil, onde muitos querem se valer do caminho mais curto para alcançar objetivos, percorrendo atalhos que vão desde o sacrifício da ética até a degradação dos princípios morais que devem nortear o caráter de uma pessoa.

As fraudes são escancaradas a cada momento da vida cotidiana dos brasileiros, situando-se em todos os setores da sociedade, seja entre os pobres, seja entre os ricos, seja entre os civis,seja entre os militares, seja entre os Poderes legalmente constituídos, enfim, onde há pessoas se relacionando dentro dos aspectos de evolução pessoal, sempre haverá quem queira construir a pirâmide do “dar um jeitinho” de forma que o espertalhão possa ficar no cume apreciando o sofrimento dos demais que buscam chegar ao mesmo nível pelo caminho árduo do trabalho e da capacidade intelectual.

Estamos no auge de uma crise cultural sem precedentes. Há inversão de valores, haja vista que hoje as pessoas que são honestas é que podem sofrer o vexame de se expor perante a opinião pública ao declarar-se honesta. Conheço pessoas (e não são poucas)que criticam determinado cidadão que exerce um cargo relevante e até hoje não deu um “jeitinho” de enriquecer ou de buscar formas de facilitar a vida de todos aqueles que o rodeiam.

Milhares de pessoas buscam um espaço no mundo do trabalho, para poder sustentar a família e dar dignidade para seus filhos, por isso se dedicam diariamente em busca de conhecimento, procurando evoluir-se ante os avanços do progresso e dos mecanismos globalizado que demanda o mundo produtivo, muitas vezes gastando o que não tem em cursos intensivos, preparando-se para os cada mais difíceis concursos da vida pública e privada, mas na hora decisiva, vêem todas as suas expectativas frustradas quando deparam com a notícia de que um certame dessa natureza está eivado de vícios, ante a descoberta de que os gabaritos estavam à venda no mercado negro.

A decepção foi geral para todos os candidatos que acreditavam na seriedade desse concurso. Uns reclamavam ter viajado muitos quilômetros até o local do concurso e ter jogado pelo “ladrão” todo as despesas materiais e todos os esforços pessoais. E o pior é que a partir desse momento passa haver um turbilhão de incertezas que vão desde a motivação pessoal até as desconfianças para um futuro concurso, uma vez que impera a certeza de alguém de muito perto dos examinares repassou as questões para quem vendeu o gabarito. Se isso ocorreu agora, como acreditar no que virá depois?

Enfim, está aí mais uma fraude se somando num universo que tem se transformado gigantesco no mundo de hoje, como as fraudes nos remédios, no leite, nas notas fiscais de um Senador, fazendo mais incrédulos dentro de uma expressiva massa de pessoas alijadas e que vivem à margem de uma sociedade cruel e interesseira, cujos seres humanos cada vez mais são colocados numa trincheira de excluídos, pressionando-os ante ao abismo da desilusão, dificultando seus anseios e suas expectativa de dias melhores.

A solução é que deve vir a galope, ante a evidência do rolo compressor que emerge sem frear sua marcha e também galopeia contra os legítimos interesses da população como um todo. Nada é fácil nesta vida. O que é fácil não se conquista, mas apenas se compra. Todos nós brasileiro temos de ter em mente que quem quer “se dar bem” à custo de “um jeitinho qualquer”, poderá até conseguir o que almeja, mas terá forjado sua consciência. Não poderá dormir, sem antes imaginar que sua ascensão custou o amortecimento das oportunidades de outras pessoas que poderiam ter maior possibilidade de ingressar no seu lugar e produzir com maior eficiência o mister exigido no cargo surrupiado.

Por outro lado, nenhum de nós deve ser curvar ante aos preceitos errôneos que se instalou em nossa sociedade, de que devemos nos “dar bem” a todo custo. Mais cedo ou mais tarde o tiro sai pela culatra. É como a mentira que gera contradição. Quem entra num cargo sem ter competência para exercê-lo sofrerá todo tipo de pressão, principalmente aquele que vem da consciência.

É preferível ser chamado de “bonachão” por se honesto, do que ser chamado de vilão por ser desonesto. Aqueles que são conhecidos como vilões andam nos seus carrões, mas são desprezados pelas pessoas aos milhões e certamente quando chegarem ao juízo final irão carregar seus merecidos grilhões.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 10/12/2007
Reeditado em 18/12/2007
Código do texto: T772250