A arte da persuasão
A solicitação chegou pelo aplicativo de mensagens e o remetente não constava na lista de contatos. Chamou logo a atenção pelas palavras simples e precisas, uma habilidade eficiente na comunicação e que facilita sobremaneira a interação nas relações interpessoais. De forma extremamente polida, a interlocutora online questionava a possibilidade de participação em um evento literário. Por conta da correria proporcionada pelos extensos compromissos rotineiros e do peso das seis décadas vividas, a tendência em declinar do convite para desfrutar da tranquilidade acolhedora do ambiente doméstico pesava na balança. E no mesmo nível de civilidade a resposta foi enviada, na tentativa de viabilizar uma saída estratégica pela tangente. O pretexto utilizado teve efeito contrário, uma vez que os argumentos do outro lado do smartphone falaram mais alto. A modulação do timbre de voz, a entonação perfeita na arguição e as justificativas legítimas apresentadas foram determinantes para o convencimento.
É fato comum pessoas de todas as faixas etárias apresentarem dificuldades na resolução das demandas do cotidiano. No comércio, nos ambientes corporativos e onde se faz necessário a troca de informações e experiências, por vezes existe a necessidade da participação direta de um terceiro interlocutor para que o perfeito entendimento entre as partes envolvidas seja satisfatório. Um bom exemplo de persuasão positiva são os vendedores em geral. Excluindo-se aqueles autocolantes e por vezes inconvenientes, uma grande parcela dessa classe trabalhadora especializou-se em identificar potenciais clientes, suas necessidades e a dedicar a cada um deles a atenção adequada. Com treinamento específico, paciência e interesse pela atividade, o retorno financeiro é garantido. Mas não é só no comércio em geral que a arte da persuasão privilegia aqueles que detêm as técnicas de convencimento. Prova disso é a incontestável capacidade persuasiva dos políticos desse País, que contemplados com a conivência leiga e alienada do eleitorado, se perpetuam indefinidamente no poder como uma oligarquia, ao sabor das conveniências partidárias.
Existem determinadas palavras com a capacidade inesgotável de literalmente abrir as portas para o mundo e que haveriam de ser classificadas como “de porte obrigatório” no cotidiano das pessoas. Os sempre bem-vindos “bom dia”, ”por favor” e “obrigado” além de expressar educação e respeito, ainda conferem chances reais de uma excelente interação. Assim foi com o convite da educadora, demonstrando que o poder de persuasão transcende obstáculos e resistências aparentemente intransponíveis. E como condimento para azeitar o convencimento, nada melhor que a presença constante do otimismo e do bom humor.
Que o diga aquele irreverente apresentador de ascendência nórdica do popular canal de televendas, que após a apresentação do produto com suas especificidades minuciosamente detalhadas, interpretando a cena final espetaculosa, com o punho cerrado e seu sorriso Colgate faz o derradeiro apelo ao telespectador: “Compre, compre, compre...”.