Um caso curioso

 

Há muitos anos atrás, não importa quando, onde e com quem - o chefe da nossa seção, pessoa aliás simpática e amável - estando satisfeito com o trabalho de todo mundo, resolveu nos premiar com um bônus inesperado.

O que ele ofereceu foi folga para todo mundo, mediante uma escala. A cada dia da escala folgaria um, ou folgariam dois, já não lembro com exatidão.

Ele nos explicou, porém, que a alta chefia não podia saber do assunto: ficaria entre nós.

A tabela foi feita mas aquilo me incomodou. Eram "folgas frias", ou seja, irregulares, clandestinas. O funcionário que faltasse, passaria por ter vindo. Para mim, aquilo era algo por demais arriscado e contra os meus valores, pois nunca gostei de mentiras e fraudes. Mesmo que soem como inofensivas, mas o problema é a consciência.

Quando pude falei com o chefe em particular. Fiz ver que qualquer pessoa que entrasse na sala a primeira coisa que via era eu na minha mesa de trabalho. Ele respondeu que, se perguntassem, diria que eu estava tratando de algum assunto em outro local da empresa.

Como isso não era nada que me tranquilizasse e no fim das contas, também contrariava os meus princípios, eu disse então que, no dia da minha folga, eu viria trabalhar normalmente. Ele teve de concordar.

Até onde me lembro eu fui o único a recusar o bônus. E acho até hoje que fiz o que era certo.

Em tempo, isso não quer dizer que eu seja perfeito. Carrego muitos defeitos e pecados.