Não Lamentemos
Cada dia nos traz uma surpresa que pode ser boa ou ruim, às vezes várias delas. O otimista prega que devemos procurar o lado bom do que nos acontece, até daquilo que aparentemente for ruim, pois, no mínimo, serve como ensinamento. Eu não consigo ver o lado bom de perder o ônibus e chegar atrasado no compromisso ou, por exemplo, esquecer o guarda-chuvas em casa quando cai aquele toró. Não vejo lado bom em levar um fora de quem a gente gostava (dizem que é livramento e pode até ser, mas na hora dói) ou de ganhar bilhete azul do patrão e recair no desemprego. Lado bom aonde? Só se for para ir à praia durante a semana sem um tostão furado na carteira.
Certo é que se ficarmos lamentando sem parar piora consideravelmente a situação simplesmente porque sentar e chorar não é um comportamento proativo. Minto, chorar até pode aliviar, mas se não for acompanhado de atitudes certeiras de nada servirá além de incomodar os interlocutores. Sim, ver o copo meio cheio ao invés de meio vazio é medida inteligente, contudo, penso ser polianismo considerando que hoje não temos que matar um leão por dia, mas um bando inteiro, o jeito é encarar o obstáculo buscando a solução mais rápida e prática possível.
- Ah, mas a pessoa precisa aprender a se reinventar.
Como, cara pálida, fazendo reposicionamento de mercado? Não somos empresas, somos gente. Mudar de ramo é sempre uma opção válida, porém complexa. Reinvenção é bacana para quem sugere, mas difícil para quem executa. O pitaco é livre, mas ninguém quer participar da busca da solução, só pitacar mesmo sem o menor compromisso. Poderíamos delegar nossa vida aos fofoqueiros que seriam os “shareholders” (acionistas), cada qual responsável por um setor: financeiro, amoroso, carreira, lazer e assim por diante. Mediante uma polpuda quantia eu até pensaria em acatar as sugestões, o problema é que só querem opinar de graça, aí não é vantajoso.
Lamentar cria uma aura pesada para quem acredita no invisível, logicamente, creio que até seja capaz de baixar a imunidade. Receber empatia é bom demais, alivia o coração dos aflitos, mas tem um tipo de pessoa que usa o outro como muro das lamentações e nessa hora temos que delicadamente fixar limites, tipo, comigo não, violão. Por falar em aura, se reclamar salvasse alguma alma do purgatório só haveria almas no céu, o que não é o caso.
Bom mesmo é caminharmos juntos, mas sem se pendurar em ninguém e usar aquela palavrinha linda chamada reciprocidade. Ah, se todos soubessem o que ela significa, que maravilha viver, tomando emprestado as palavras do poetinha Vinícius.