A hora de dizer adeus

Haviam ensaiado essa despedida por várias vezes. Quem geralmente ensaia fica pronto para subir ao palco. Parece que havia chegado a hora: as lágrimas nos olhos, o coração apertado, a voz embargada… No palco do adeus as palavras apressam-se em vociferar, mas no mundo tecnológico os gritos saem pelas pontas dos dedos. Medo!

Ele se achou no direito de fuçar a vida de Cecília, e descobriu algo que julgou ser uma grande ofensa. Cecília escrevia em um site para extravasar suas emoções, para dar vida à sua inspiração, para dividir palavras com pessoas que , como ela, também faziam da escrita um lugar de refúgio. Ele descobriu e não pôde suportar, ela o estaria enganando, mentindo, traindo…

Cecília ficou em choque! Como poderia lê-la dessa forma? Ela que tantas vezes lhe havia mostrado seus mais tenros poemas, os mais ardentes, os mais apaixonados...seus poemas de amor… era seu jeito de dizer aquilo que a voz não conseguia expressar. Mas ele não quis acreditar, ele nada sabia de poesia, nem fazia questão de saber.

Uma coisa ele sabia: acreditar em suas próprias ilusões, criar suas próprias decepções e assim afundar-se num sofrimento desnecessário…

2021

Isabel Cristina Lopes
Enviado por Isabel Cristina Lopes em 14/02/2023
Reeditado em 14/02/2023
Código do texto: T7719540
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