FILA DE PRIORIDADE

Chegar aos 60 anos de idade é uma bênção. Significa dizer, que a pessoa atingiu o ponto máximo de sua existência e que a partir deste momento, pode se dar ao luxo de reduzir sua carga de trabalho, passando a desfrutar mais e melhor do seu tempo, assim como usufruir de tudo aquilo que economizou como resultado do seu trabalho.

É inegável que poder comemorar 60 anos traz alguns benefícios. Dentre muitos, podemos destacar as vagas reservadas nos estacionamentos das cidades, passagens gratuitas nos ônibus urbanos e intermunicipais, a possibilidade de pagar meia entrada em espetáculos e atividades de lazer, prioridade em processos judiciais e direito à atendimento prioritário urgente e individual em todas as instituições públicas e privadas.

E ainda tem mais: uma pessoa de 60 anos embarca primeiro nas viagens aéreas e caso seja portador de alguma doença grave, pode pleitear a isenção no pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

Ao tomar conhecimento de todas estas vantagens, meu dileto amigo Fernando Jorge Rocket ficou muito feliz, porque a partir de então, ele iria desfrutar de uma série de regalias, das quais tomara conhecimento e das quais queria desfrutar desde já. Afinal, uma data especial quando se completa 60 anos, merece ser comemorada em grande estilo e na companhia de pessoas queridas e que nos querem bem.

Ele, então, convidou-me para ir com ele ao supermercado. Queria comprar alguns ingredientes e bebidas. Planejara oferecer um jantar aos amigos, com o intuito de celebrar a ocasião em que chegava aos 60 anos. E lá fomos nós às compras. Compramos peixe, camarão e mariscos diversos, uma vez que ele pretendia servir um ceviche, de entrada, acompanhado de um bom vinho chileno. Escolhidos todos os ingredientes, seguimos para a fila do caixa, na qual já havia várias pessoas, incluindo alguns idosos.

Aproveitamos o tempo na fila para conversar sobre detalhes do jantar. Enquanto isso, a fila crescia e arregimentava algumas pessoas idosas às nossas costas. Dentre estas, se destacava uma senhora, cuja figura denunciava que ela devia beirar os 80 anos. A mulher tinha a pele flácida, bastante enrugada e parecia muito cansada.

De repente, surge ao nosso lado, uma fiscal do supermercado, puxa Fernando pelo braço e diz em tom autoritário: “Senhor, por favor, me acompanhe. O Senhor é um homem idoso e não pode, de maneira nenhuma, estar nesta fila. Venha, vou levá-lo à fila de prioridades”. A moça já foi puxando o braço do meu amigo e arrastando o carrinho de compras, enquanto todos olhavam atônitos aquela cena.

Quando a mulher idosa se deu conta do que estava acontecendo, “queimou ruim”. Largou a bengala, colocou as mãos nos quadris e bradou: “Que injustiça é esta? Eu sou muito mais velha do que este homem. Era eu quem devia ser atendida na fila preferencial”.

O meu amigo, que sempre se portou de forma elegante e educada como convém a um perfeito cavalheiro, “ficou bege de vergonha”, mas num lampejo de solidariedade humana disse: “Senhora, por favor, desculpe! Mas, como todos estão vendo, eu não tenho culpa desta situação. Também, quem poderia acreditar que a Senhora tem mais de 60 anos? Tão bonita, elegantemente vestida, charmosa e com a cútis tão delicada? Ninguém jamais haveria de dizer que a Senhora é uma mulher idosa!

A mulher abriu um largo sorriso, enquanto as pessoas que assistiam à cena o aplaudiam com profundo entusiasmo. Ele seguiu para a fila preferencial e eu o segui admirada com a sua presença de espírito e pensando com meus botões: “Caramba, como é fácil fazer uma mulher feliz! ”

Com receio de viver outras situações iguais, hoje, meu amigo ao fazer compras no mesmo supermercado, já vai direto para a fila de prioridades.