Eficiência burocrática
Para consultar a minha dívida, correspondente ao impostos municipais, que eu, por razões, que me fugiram ao controle, não paguei desde há uns oito anos, telefonei para a Prefeitura, e atendeu-me uma funcionária, que, educada, atenciosa e pacientemente, não podendo sanar as minhas dúvidas, depois de uns vinte minutos de conversa, e vários desencontros de informações, consultou um outro funcionário, que, também ele, paciente, educado e atenciosamente, comigo conversou, ouviu-me, falou-me, e verificou, nos computadores da prefeitura, os registros da sigla da minha residência, e descobriu, após uns quinze minutos de palestra, eu a repetir-lhe, quatro, ou cinco, vezes, as informações que eu fornecera à funcionária, que, sou obrigado a dizer, é moça sorridente - sei, embora eu não a tenha visto, e, portanto, desconheço-lhe a figura -, e ele a dar-me as explicações, que não me foram úteis, seis, ou sete, vezes, que ele não podia me fornecer as informações que me era do interesse, e transferiu a ligação para um funcionário, que logo entendeu, ao ouvir-me a solicitação, que não é ele o funcionário que possui as informações que eu preciso para eliminar de minha mente as dúvidas pertinentes, e sorriu, e gargalhou, entendendo engraçada a confusão, e disse-me que iria transferir a ligação para uma funcionária do departamento apropriado, que tratam, o departamento, e a funcionária, da questão que me envolvia, e eu com ela pude conversar, animadamente, durante uns trinta minutos, ela a solicitar-me explicações acerca do meu caso e eu a solicitar-lhe informações a respeito do mesmo caso, que era o meu, ela a entremear as explicações, que, digo a verdade, sou sincero, de nenhuma utilidade me foram, com sonoras e cativantes gargalhadas e comentários jocosos, que me fizeram gargalhar, e, por fim, informou-me que eu teria de comparecer à prefeitura, agendar um atendimento, e assim resolver o problema que me ocupava os pensamentos e o tempo.
Irei, amanhã, à prefeitura.
Depois de, penso eu, uma hora envolvido numa conversa infrutífera com quatro funcionários da prefeitura, nada tenho a reclamar, e por duas razões: primeira, e não a mais importante: se tal episódio de minha vida não tivesse ocorrido eu não teria o que escrever hoje; e, segunda, e não a menos importante: são divertidos, engraçados, espirituosos, os quatro funcionários, que me atenderam, da prefeitura: fizeram-me rir, durante um bom tempo, com toda a confusão.