EU, ETIQUETA
Este é o título de um poema do nosso querido Carlos Drumond de Andrade.
Essa manhã, deparei-me com essa preciosidade, e não mais que de repente, os afazeres que havia me proposto a desempenhar no meu escritório, posterguei-os, ficaram pra depois.
Ao lê-lo percebi a grandiosidade do poeta e sua perspicácia ao discorrer por um assunto tão pouco raro em nosso cotidiano, o fato de sermos um homem-anúncio ambulante, uma espécie de :”É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade”
Durante a semana, presenteei-me com duas camisetas que determinada loja expunha em suas vitrines no manequim.
Por diversas vezes já manifestara a essência personalista que carrego; ao levantar a bandeira própria de defesa do ego, e para não me verem como narcisista, agora reputo a necessidade da valorização da idiossincrasia.
Aquele modelo exposto no quadrado de vidros da loja, vendendo aquela marca, dali em diante, seria eu a transitar pelas ruas com a logo e com a estampa que me fora sugerida.
“Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio.”
Eu que não vejo como um consumidor voraz de tudo que me é imposto pelas mídias, percebi naquela loja uma proposta diferente das demais. “SEJA VOCÊ MESMO”, “personalize a sua estampa”, “crie e nós estampamos”.
As ideias me fervilharam a mente, naquele instante, pensei, porque não andar com a minha própria identidade grafada naquilo que propagandeio?
Imediatamente, tratei para que fossem gravadas as minhas iniciais nas duas camisetas. Depois de prontas, quando a eficiente vendedora me apresentou aquelas relíquias, minha alegria era tamanha, tal qual aquele menino que recebeu seu presente tão esperado.
No dia seguinte, num sábado, seria o aniversário do filho mais velho, que por questões outras, quase não nos encontramos, em meio as distâncias que esse mundo nos impõe.
A satisfação do presente que me permiti nos dias anteriores, a ideia da marca própria registrada naquilo que você divulga, e ainda a sugestão da valorização da autoestima, foram os combustíveis para buscar o presente ideal àquele que muito estimo, uma camisa com o seu nome próprio e o ano que nasceu.
Na hora da entrega do presente, além é claro, de mais uma vez me SENTIR e me fazer presente na vida daquele que amo, ficou o registro da lágrima e a emoção que da mesma forma que quando vi aquelas estampas em minhas mãos, a reação do primogênito não foi diferente.
Em um outro poema, que há tempos publiquei, O MODELO MANEQUIM, ali ressaltara a ideia contumaz de sermos o que somos e que mostramos ao mundo; de estarmos numa vitrina, sem termos a inércia daquele boneco.
O poema de Drumond nos remete para a necessidade de estarmos atentos ao quase imperioso decreto de nos submeter a moda itinerante.
Sem o mesmo brilho é claro, naquilo que escrevo costumo ressaltar valores que transitam em mim.
Alguns poderiam me apontar como o genuíno leonino que sou, pois afinal, os 2 filhos, de certa forma, trazem o meu nome e até uma das netas, também a registrei e a trato como Pétria.
Ora, ora, pois, pois. Em minha defesa, saio com a seguinte pérola que diz: Não tenho tudo que amo, mas amo tudo que tenho. Afinal somos o que propagamos, e pra ratificar o que propago; não sou um vendedor de produtos, sou um vendedor de sonhos. Sou um vendedor de mim mesmo.
PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)
12/02/23