A geometria dos sexos
Ter amigos inteligentes é uma bênção com a qual fui regiamente agraciada. É com eles que se pode discutir assuntos inusitados, e é dessas discussões que muitas vezes surgem idéias interessantes, boas risadas e inspiração para o exercício da escrita.
Foi num colóquio assim que surgiu, repentinamente, uma teoria: os homens inventaram as retas. A distância mais curta entre dois pontos só pode ter sido imaginada pela mente objetiva e racional de um homem. Eles sabem de onde partem e para onde querem chegar, e para atingir essa meta basta traçar uma linha entre ambos os pontos. Simples! Não há meias medidas, perguntas sem propósito, desvios de rota – tudo é bastante claro, sem necessidade de devaneios no meio do caminho. Sua capacidade de analisar os fatos e colocá-los em seus devidos lugares torna tudo óbvio e, repentinamente, fácil.
E nós, mulheres, somos as prováveis criadoras das curvas. Algo que nos é natural, afinal nosso modelo físico compõe-se basicamente de tais formas; porém há muitas sutilezas ocultas nessa geometria. Também sabemos de onde partimos, sabemos (normalmente com muita convicção) qual o destino que desejamos, mas temos consciência do imponderável - e por conta disso projetamos vários pontos entre o início e o fim, preenchendo com uma linha sinuosa todos os caminhos possíveis. Meandros são nossa especialidade: parece que não há graça nenhuma em se iniciar um projeto (seja ele qual for) e chegar imediatamente ao seu final, sem passar por todas as situações prováveis, sem ponderar todas as alterações possíveis, ou sem dar uma paradinha básica numa esquina qualquer que aparentemente não tem ligação nenhuma com o trajeto. Aparentemente.
Sim, é verdade: objetividade não é o nosso forte. Ocultamente admiramos a capacidade de simplificação que os homens possuem... Ah, perdoem, meninas, acabei de revelar um segredo! Quantas vezes nos pegamos ouvindo hipnotizadas uma voz masculina falando da simplicidade de um projeto qualquer, fazendo tudo parecer lógico e objetivo... e quantas vezes essa voz nos deu ânimo para começar, força para continuar, vontade de seguir em frente? Mas ainda assim não abandonamos nossa subjetividade por conta da necessidade de rechear de curvas a vida. Afinal, sabemos que ela é mesmo assim, sinuosa, cheia de ires-e-vires, povoada de altos e baixos. Raras vezes se delineia uma reta, pois há o imponderável, os desvãos, as alternativas. E é então que nossa simbiose se mostra mais evidente: é nessa hora, quando surgem os pontos fora da reta, que nosso colo curvilíneo se oferece para abrigar uma cartesiana cabeça masculina.
Nós, mulheres, precisamos das retas. Os homens gostam muito das curvas. E com curvas e retas seguimos desenhando o mundo.