Bahia que não me sai do coração
Quando um brasileiro fala mal do nordeste, principalmente dos baianos, fico intrigada com tamanha violência gratuita, pois o meu povo não deve reverência e nem obediência a ninguém. Chega de escravidão, de colonização, de alienação, de roubo de cultura e ignorância!
Temos bunda grande, seios fartos, cabelos crespos, lisos, cacheados, temos dermes de tons variados e temos uma fala normal, você é que acha engraçado. Porque tudo que é diferente deve ser caçado e exterminado. A vulnerabilidade social é uma questão de todos os estados, assim como a criminalidade, entretanto, o nordeste é rechaçado.
Esse padrão social estereotipado é das classes ditas dominantes, cujo poder veio das caravelas. Saqueadores e invasores europeus que caçavam riquezas, dominavam e dizimavam a população local, fincavam bandeira e usurpavam a terra. Genocidas dos povos indígenas, traficantes de pessoas, defensores do sistema que sujeita o semelhante à escravidão e praticantes do etnocentrismo.
Parece até que a formação do povo brasileiro não originou-se do mix de etnias. Não temos sangue puro, somos mestiços. Não sou indígena, nem africana, nem portuguesa, nem espanhola, alemã, tampouco holandesa, sequer italiana. Nessa terra de ninguém, sou brasileira. Nordestina arretada, baiana privilegiada pelos encantos e cantos da rainha do mar.
Filha de Tupã, sou Jaci, deusa da lua e guardiã da noite. Também sou Iara, a mãe d’água. Sou baiana sim, meu nome tem significado, sou um sujeito de muitos predicados. O baiano é um povo receptivo, caloroso, amoroso, mas não pise no calo. Não se deixe enganar pelo sorriso que trago nos lábios, minha paciência é moderada, minha educação depende da sua e o meu direito começa quando o seu termina.
Não se engane, tudo começou aqui na Bahia: a primeira capital, a primeira escola de medicina, o começo da educação formal, dentre tantos destaques e celebridades. Temos expoentes nas artes, na música, nas ciências e nas ruas.
Quem não ouviu falar de Elsimar Coutinho, Pirajá da Silva, Juliano Moreira, Milton Santos, Anisio Teixeira, Ruy Barbosa, Pedro Calmon, Visconde de Cairu, João Ubaldo Ribeiro, Gregório de Matos, Castro Alves, Jorge Amado, Dias Gomes, Glauber Rocha, Mario Cravo, Tati Moreno, Nide Bacelar, Vavá Botelho, Anna Nery, Irmã Dulce, dentre tantos ? Como disse, o sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre: “triste do brasileiro que não tenha dentro de si alguma coisa de baiano”.