Idadismo. Preconceito de idade. Quem é mais velho sabe exatamente o que estou falando. Eu sei.Tenho 59 anos e confesso que demorei para admitir a minha real idade, ouvir meu corpo e minhas novas vontades. Fui criado em uma sociedade onde ser velho é um defeito e não te valorizam. Tenho alguns amigos que já podem usar alguns privilégios adquiridos pela idade e por vergonha ou para não sofrerem preconceito, não usam. Eu odeio pintar cabelo e mesmo assim, não consigo deixá-los brancos, mesmo que algumas pessoas já tenham me dito que fico bem. Ser velho não é defeito, mas uma benção. Se você consegue envelhecer bem é uma vitória, não é? É uma pena ter que admitir que nós maduros ou velhos, seja como queiram chamar, somos os primeiros a praticar o idadismo, dando espaço para os mais jovens fazerem a mesma coisa..

          Reconheço que sou idadista, mas aos poucos estou mudando. É um processo difícil, penoso, mas libertador quando a gente consegue. Nas minhas mudanças descobri uma coisa boa: estou muito bem para a minha idade, apesar de alguns excessos que cometi. Já me peguei sendo idadista com outras pessoas, mas logo que percebo, volto atrás e tento fazer o que é certo. Acho que a maior violência do idadismo é no mercado de trabalho. Pessoas acima de 50 anos, muitas vezes capacitadas, tem uma dificuldade enorme de trabalhar.

          Meu processo está sendo lento, mas produtivo. As mudanças estão me tornando uma pessoa mais leve, mais livre e muito mais feliz. Aos poucos minha vida vai tomando um rumo diferente: doei metade das coisas que tinha em casa e nunca havia usado, faço exercicios, me alimento bem, aprendi a dizer não e cheguei a conclusão que o silêncio é mais valioso que uma boa resposta.

        É quase impossível não ser idadista na sociedade que vivemos, numa cultura que cultua a juventude e quase ninguém quer ser velho. As pessoas mexem tanto na aparência, tentando parar o tempo, que ficam sem a menor referência do que eram. Ser antiidadista é difícil. É uma luta diária que nos leva a muitos questionamentos e é sempre bom lembrar que ninguém nasce preconceituoso, nos tornamos um a medida que crescemos. Ah, e não troco minhas rugas, minha sabedoria e minhas experiências vividas por nada nesse mundo.

         E só para constar: um dia ainda vou sair da barbearia com meus cabelos brancos. Pode parecer uma futilidade, mas vai ser minha maior vitória.

José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 09/02/2023
Reeditado em 09/02/2023
Código do texto: T7714904
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