PROMESSAS DE UM FUTURO PROMISSOR

Até a pouca grama da frente da casa onde moro – o cachorro escavou boa parte do gramado - já sabe que eu fui trabalhar com crianças mesmo sem ter filhos ou ser Professor. Vendo tantas promessas de um futuro promissor, me pergunto: onde estarão essas alunas e alunos dos prés daqui há vinte, trinta anos?

Pais e mães de família responsáveis? Drogados ou alcoólatras? Quantos gays ou heteros entre essas crianças? Que país terão para viver e conviver? E isso depende de nós: que Pátria legaremos para nossas crianças? Não dá pra saber o que esses inocentes serão, pois a vida é um caleidoscópio de opções e caminhos – alguns salutares, outros não.

Só podemos invejar: Deus permitisse que conservássemos essa inocência por todas as eras que sobrevivemos e convivemos nesse planeta chamado Terra. Deus permitisse que a última zanga não fosse além da próxima brincadeira, como vemos observando nossas crianças.

Mas não é assim no dia a dia: a vida é um pega pra capar, é matar um leão por dia, sem tempo pra pensar nas consequências. Que a criança que fomos sobreviva na criança que geramos é o mínimo que ousamos pedir. Se pudéssemos, pouparíamos essas crianças de maternal e de pré da vida que vem por aí.

Só que não.

O que vem por aí, pra quem aprendeu a ler as letras ou a vida, não é nada aprazível: gente vendendo a própria mãe em troca de um emprego bem remunerado. Gente renegando a mãe citada por uma vaga na coligação vitoriosa. Gente brigando com amigos de décadas por causa de política. Gente sendo tudo menos gente na luta pela sobrevivência. Alguma diferença dos animais, que disputavam a fêmea ou o território?

Poucas, bem poucas. Só que aos animais sobra a desculpa de não raciocinar. Mas nós que raciocinamos – mal -, qual a desculpa?

O que nos resta, para quem trabalha com elas, é aproveitar a convivência com essas crianças. Algumas às vezes dão vontade de esganar – e me perdoem a heresia. Mas a maioria traz um sorriso terno ao meu rosto quando vem correndo me abraçar ou pedir: “Tio, coloca um desenho?” ou: “Tio, me balança?”. Tenho três sobrinhos de sangue que já são adultos, mas uma porção de sobrinhos postiços que me fazem ver que ainda não perdi a capacidade de sentir ternura.

Quiçá essas promessas tenham um futuro realmente promissor. E que cuidem de quem os gerou e criou quando esses não puderem mais cuidar de si mesmos.