Dom Casmurro e o Grêmio
Ontem pela manhã iniciei a leitura de Dom Casmurro após ter lido em sequência Brás Cubas e Quincas Borba, dando seguimento a empreitada a qual me propus realizar, isto é, ler esses três escritos de Machado de Assis, os quais são considerados, pela crítica literária, a trilogia realista deste que é o maior escritor brasileiro, quiçá da língua portuguesa. Como estou nos primeiros capítulos, ainda não posso tomar parte nesta que é uma das maiores polêmicas da literatura tupiniquim: Capitu traiu Bentinho?
Para ser mais exato, estou no capítulo XX, intitulado “Mil padre-nossos e mil ave-marias”. Suspendi a leitura nesta parte da obra, justamente, para escrever esse texto, já que o conteúdo do respectivo capítulo me lembrou de uma cena que aconteceu comigo em meus tempos de criança e que relatei a uma amiga bastante tempo depois.
Neste trecho da obra de Machado, Bentinho, que está com cerca de catorze anos de idade, prometera aos céus que se José Dias conseguisse fazer que o menino não ingressasse no seminário religioso (destino este proposto por sua mãe desde há muito tempo, após uma promessa feita a Deus por Dona Glória, quando este ainda estava na sua barriga), ele iria rezar mil padre-nossos e mil-aves-Marias. O não cumprimento de outras promessas anteriores da parte do menino, que na sua mente dava a impressão de que estivesse em débito com Deus, foi a parte que me fez lembrar da referida situação a qual relatei a minha amiga: uma promessa não cumprida de minha parte aos céus e que, segundo ela, havia sido o motivo por tamanha desgraça da qual ambos e mais a metade do estado do Rio Grande do Sul haviam passado desde lá até os dias nos quais nos encontrávamos.
A data era 17 de junho de 2001, aniversário de trinta e oito anos de minha mãe e dia do segundo jogo da grande final da Copa do Brasil entre Grêmio e Corinthians, no Pacaembu.
Depois de um empate em 2 a 2 no estádio Olímpico, onde o Grêmio buscou a igualdade no placar após sair perdendo por 2 a 0 (os dois gols tricolores foram marcados por Luís Mário), eu me encontrava na frente da televisão, apavorado com a situação do jogo. O placar registrava quase 40 minutos do segundo tempo e o Corinthians acabara de descontar o placar com Everthon. O resultado de 2 a 1 para o Grêmio dava o título para o meu tricolor, e o empate levaria a decisão para os pênaltis. Foi quando eu, assim como Bentinho, levantei as mãos e a cabeça para o céu e prometi que se o Grêmio fosse campeão, eu iria dar vinte voltas correndo em torno da quadra onde eu morava e rezaria vinte pai-nossos.
Aconteceu que o Grêmio fez o terceiro gol através de uma linda jogada coletiva, que terminou com a bola nas redes após a finalização, praticamente sem goleiro, de Marcelinho Paraíba, tornando o Grêmio tetra campeão do torneio. Após o apito final do árbitro, eu saí para a rua pulando e gritando como um louco, dizendo para mim mesmo que a promessa não precisaria ser cumprida, afinal, a taça já estava em nossas mãos.
Em meados de 2015, quando eu me encontrei com a minha amiga, gremista roxa, e contei-lhe a anedota, ela me culpou pelo fato de o Grêmio ter ficado, até aquele momento da nossa conversa, sem ter ganho mais nada até então, o que fez com que déssemos algumas boas risadas. Em 2016, menos de uma ano após a nossa conversa, o Grêmio saiu da fila e venceu a sua quinta Copa do Brasil, terminando com o jejum que, segundo a minha amiga, eu fui o responsável.