A Próxima Parada

Texto de Fael Velloso

 

Eu sinto que eu posso sentí-la. De alguma forma, eu sei que ela está rondando. Que ela pode estar calculando meu tempo, diante de uma ampulheta ou cronômetro regressivo, torcendo para que os dias passem mais rápido, para que assim, meu último respiro me transforme apenas numa carcaça de alguém que eu já fora.

 

Eu Sinto que a próxima parada é o meu julgamento, ou então, observar aqueles que ficaram. Observar seus comportamentos, e como vão lidar com minha partida. Alguns vão realmente sentir, outros apenas vão dar de ombros, e vida que segue. Mas eu queria saber o que vou sentir. Dor? Saudades? Raiva? Tudo que sabemos pode ser só teoria, pode ser só um monte de colagens de pessoas que, com o passar dos séculos, acreditaram poder entender algo assim tão incompreenssível. 

 

Eu sinto que ela tá chegando. Eu sinto o frio, ou que algo me ronda. Que os vultos se tornaram mais frequentes, brancos ou pretos, mas sempre estão ali no corredor, ou passando de um lado para o outro, enquanto eu penso nisso, assistindo o último jornal da tv daquela noite. Num vou negar que tenho medo. O desconhecido pode até nos atiçar a curiosidade, mas ele também nos assusta. Nos deixa inseguros. E eu sinto uma mistura de tudo aquilo que já narrei.

 

Que seja breve, que seja sem dor, que seja para um lugar melhor. Não sei se o que sinto é esta chegada do fim. Mas eu juro, eu sinto algo. E mesmo sendo um ser humano coberto de orgulho, egoísmo e prepotência, eu nunca quis tanto estar errado.

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 07/02/2023
Reeditado em 07/02/2023
Código do texto: T7714032
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