Antes mesmo do sol, a vida se anuncia. A padaria abre portas aos apressados, motorizados exageram nos freios, passarinhos festejam nas copas das mangueiras seculares, que incorporam a arquitetura da rua. Mas os vizinhos dormem. Alguns, por causa do Big Brother, que lhes abocanha um naco do sono; outros, porque a idade pesa; outros, ainda, porque um bebê chorão não sabe que amanhã é outro dia. Então... Eu que não integro nenhum desses times sou uma solitária na manhã que pede licença. Mas não me dou por vencida. Tenho tanta coisa pra fazer, que não sei nem começar. O relógio é parceiro, mas nem tanto. Sem ele, a vida seria um redemoinho. Com ele, a vida é redemoinho em dobro. Sem saber de sua importância, os ponteiros vão ativando o dia: um desses dias incolores, insípidos e inodoros dos quais a gente um dia vai morrer de saudade.
Enquanto escrevo, um galo urbano quebra todas as regras, contrariando seu posto de guardião da aurora: num lote vago, ele canta às nove da manhã. Isso são horas, seu galinho malandro? Mas cante, sim! O dia está tão comum, que merece um cocoricó! Talvez o Carijozinho só queira me dizer: Carpe diem!
Tema da Semana: Dia Comum, modo ativado (crônica)