A leitura em sua fase primária: os contos de fadas.
Os Contos de Fadas não são das fadas, não são das crianças, tampouco dos escritores. São dos corações viajantes que ainda na primeira infância imaginam as princesas irreais e suas aventuras sempre tão facilmente resolvidas. Mas, não é somente sobre o cenário, hoje interpretado como envolto de machismo. Não é somente sobre as irmãs malvadas e bruxas (sempre figuras femininas maldosas). É sobre poder viajar.
A viagem de Mulan para lutar pelo império chinês, acabou por lhe render as graças do Filho do Céu (imperador). A coragem foi sua companhia.
A viagem de Gerda por todo norte europeu em busca de seu irmão de brincadeiras, a rendeu a salvação da alma junto a Kay que havia sindo invadido pelo mal e pela frivolidade. A sua companhia foi o amor mais inocente, o amor das rosas, da vovó contadora de histórias e das renas e corvos que a ajudaram pelo caminho.
A viagem da Branca de Neve foi terrível. A inveja que invadiu o coração da madrasta a ponto de mandar matar a enteada de 7 anos. Ela não foi salva pelos anões que a deram abrigo em troca de serviços domésticos. Ela não foi salva, ela só mudou de dono.
A viagem da Bela adormecida, através dos anos, teve o mais clichê de todos os finais: salva pelo príncipe, duas vezes. Príncipe esse que quase não foi capaz de salvar os filhos do caldeirão de víboras da própria mãe, que por sinal, era canibal.
Foram muitas viagens, mas a Bela, aquela cuja as irmãs invejaram e a vida do pai salvou, escolhendo por livre e espontânea vontade casar-se com a Fera e as suas virtudes, foi a mais encantadora. Para tocar o coração de Bela, não foi necessário que ninguém a salvasse, ela mesma se salvou. Ela lutou pelo pai, por ela e depois pela Fera. Ela lutou sozinha, ao seu lado apenas os livros que ela cultivara. Para a Bela não precisava que viesse o mais belo dos príncipes, bastava a nobreza de caráter. Para a Bela, bastava a liberdade, pois não se pode ser feliz se não for livre e o amor é livre.
Mesmo com todos os imbróglios das partes mais macabras, as sempre invejosas irmãs, madrastas e bruxas. Cada conto de Andersen, Perralt, Grim's, Suzanne Barbot e Madame Jeanne Marie marca um traço de gerações, marca as histórias populares dos países que são citados. Cada conto de fada traz uma lição, porque mesmo a vida sendo problemática e por vezes, triste, podemos nos apoiar em pensar, para não surtar, que há sim um final feliz para quem faz o bem e o mal sempre será pago na mesma moeda.