O estranho alerta da defesa civil
Acordou. A manhã escura, chuvosa e fria não era exatamente um convite para sair da cama. Tentou, mentalmente, listar tudo o que tinha a fazer durante o dia mas a preguiça era muito forte, não conseguiu pensar em nada. Esticou o braço e puxou o celular. O LED que avisava que tinha recebido mensagens estava piscando. Apertou a tela e notou que havia apenas uma mensagem SMS e era da Defesa Civil.
Automaticamente abriu e mecanicamente leu o alerta: “Defesa Civil Urgente: aproximação de uma anomalia de origem desconhecida poderá causar tempestades elétricas, tremores de terra, ondas gigantes e chuvas torrenciais na Cidade RJ, a partir dessa tarde. Procure imediatamente um abrigo. (18/5)”
O coração disparou! Que merda de brincadeira era essa? Como assim, uma anomalia de origem desconhecida? Tornou a ler a mensagem. Notou que foi transmitida por volta das quatro da manhã, quando dormia que nem uma pedra. Daí para a frente, nem um recado a mais, até mesmo porque o celular não tinha sinal algum…
Esqueceu o sono, levantou e ligou a televisão. E aí descobriu que não estavam brincando. Não havia luz. Lembrou do rádio, sabia que em algum lugar tinha guardado um aparelho pequeno, de pilhas. Foi até ao quartinho da bagunça, revirou algumas caixas em vão, não conseguia se concentrar. O sentimento de urgência diante de um aviso desconhecido era maior.
Correu até a janela e o quadro era desolador: pessoas, famílias inteiras, com malas e bolsas andando para lá e para cá, aterrorizadas, buscando uma maneira de encontrar os tais abrigos. Na rua em frente, a quantidade de carros, ônibus e demais veículos, nada andava e alguns motoristas já abandonavam seus veículos em pânico. Veio a sua cabeça a lembrança de um formigueiro que pisara, quando criança. Milhares de insetos correndo atarantados, para lá e para cá, sem pensar, sem destino, sem razão.
Foi até a cozinha, abriu a geladeira e contabilizou duas garrafas de água mineral, umas latinhas de cerveja, um prato de comida descongelado na noite anterior e um restinho de manteiga. Na mesa da cozinha, um pacote de pão de três dias, duro como uma porta teria que ser o seu café da manhã. A cafeteira elétrica, a única em casa, não tinha mais nenhuma utilidade.
Releu o alerta. Uma aberração se aproxima, é isso mesmo? Alguma coisa tão estranha, tão diferente, tão inimaginável que não encontraram nenhuma outra palavra para defini-la? Ficou pensando se estava realmente acordado. A anomalia seria isso, um sonho estranhamente real, possível, mas um sonho?
De qualquer maneira, tinha que tomar alguma decisão. Seguir o povo e procurar um abrigo ou ficar em casa e seja o que Deus quiser? Abriu a porta de casa e deu de cara com o apartamento do vizinho escancarado e sem uma viva alma. Desceu até a portaria sem encontrar ninguém, a não ser o pânico no meio da rua.
Lembrou do tumulto que anos atrás tomou conta da cidade, quando alguém espalhou o boato que a represa tinha colapsado e as águas iam destruir tudo. Todo mundo correu para os morros, esquecendo que ali nunca existiu represa alguma. No entanto, apocaliticamente, um policial gritava sem parar: “é o fim, é o fim, o mundo já acabou e vocês nem perceberam”.
Passou pela sua cabeça que toda essa confusão era a própria anomalia. Tomou uma decisão, não ia a abrigo algum. Subiu de volta para o apartamento, fechou a porta, cerrou as cortinas, engoliu o ansiolítico, deitou, puxou o edredom e quase adormecendo pensou, “o mundo que se vire!”
(2015)