Estranha realidade
Disseram-me que eu nasci da barriga da minha mãe. Fala sério! Que absurdo. Onde já se viu, eu, nascer de uma barriga. O que me deixou mais eloqüente foi o fato de continuarem mentindo. Já não bastava afirmar que eu vim de uma barriga, ousaram ratificar que antes, muito antes, eu era um tal de espermatozóide! Que diabos é isso? Espermatozóide? Prefiro acreditar em metáforas. Elas são mais sutis, e dizem a verdade de uma forma obscura e venenosa. O veneno está na maneira de como acreditamos viver. De como acreditamos que realmente fomos um espermatozóide. Por que não posso ter uma crença só minha. Há tantas religiões no mundo, e há tantas guerras no mundo. Não que as guerras sejam fruto da religião, mas prefiro acreditar no meu Deus, sem depender de histórias divinas. Gosto de ser independente na medida do possível. Sendo assim, por que eu teria que acreditar que já fui um esperma. Será que dá para entender a situação? Estou falando de espermas, aquelas coisas brancas, gosmentas...É difícil para mim, sabe. Acreditar que um dia eu fui aquilo.
Por que acreditar na ciência? Pelo mesmo motivo que acreditamos na religião? Ora, isso não é justificativa. Prefiro acreditar que eu era um caroço então. Isso mesmo, um caroço. Amadureci, cresci e nasci. Afinal, não é assim que rege a vida? Aliás, o que é vida? Cada um vive de uma forma tão diferente da outra que por vezes fico perdido. O que é certo? O que é errado? É normal matar? É normal roubar milhões de cofres públicos? É bonito espancar domésticas nas paradas de ônibus? Deve ser. Pois tudo isso acontece, e ninguém dá bola. É tudo uma estranha realidade. Dizem que vão mudar a situação social do país, vão fazer a economia crescer, gerar mais empregos e a educação, ah, essa vai ser invejável! Só se for pela taxa de analfabetismo.
Mas por que acreditar em tudo isso? Posso fazer da realidade uma ficção. As pessoas brincam de viver, portanto é justo que eu brinque do meu jeito. Não é justo? Ou melhor, o que é justo? A Paris Hilton sair da prisão, desfilando, após três semanas, por bom comportamento? Que mundinho medíocre! Prefiro acreditar que não sou humano. Vou brincar de viver, brincar, apenas me divertir. Imagine só, eu um espermatozóide quê saiu de uma barriga, depois cresce e como ser humano comete tantas desavenças sociais. Jura! Eu não!
Acho que vim de outro planeta, porque é assim que me sinto. Um extraterrestre vendo todo mundo se matar. Ninguém ta aí para nada. Estão todos apenas cumprindo seus papeis. Então não estão cumprindo direito. Saio à noite e vejo tanta hipocrisia, cegueiras da juventude! São as piores! Garotas que não se dão o valor, não têm objetivos. Garotos que fumam maconha, bebem, e usam roupas largas porque está na moda e para “pegar” as gurias. Que planeta é esse? Isso tudo é uma mediocridade! Não há mais educação, falta senso, semancol, está tudo errado.
Entro em desespero e acabo escrevendo um texto para relaxar. Mas nem sempre entendem o que eu escrevo, porque meu ponto de vista é apenas o meu ponto de vista. “E daí que ele pensa assim?” Cada um vive uma ideologia, cada um teve experiências distintas ou parecidas, mas nunca iguais. Mesmo assim, isso não serve de resposta para tudo que meus olhos não vêem, mas meu coração sente.
Estranha realidade. Prefiro mesmo acreditar que não fui um espermatozóide. Como se isso tirasse da minha consciência tudo que passei. Talvez eu esteja me igualando a todos: Fechando os olhos para o que nos obriga abri-los.