Das Minhas Lembranças 51

- Ei, acorda!

Virei para o outro lado, mas alguém insistiu: - Vamos, acorde, temos novidade no quarto! Ergui da cama, sonolento. Esfreguei os olhos com os punhos cerrados.

- O que foi?

Não me recordo quem e quantos, três?, quatro talvez, encontravam-se ao redor de minha cama naquela noite em que a lua projetava sua luz prateada pelas janelas abertas. Se não me falha a memória, o Brasileiro fazia parte dos que me sacudiram, para me informar que o Valmir chegara do pomar das terras de um sitiante vizinho do Ginásio Agrícola, com uma mala cheia de laranjas e a depositara sobre o seu armário. Devia ser por volta da meia noite. Valmir dormia um sono benfazejo. Pudera, deveria estar cansado pela caminhada de cerca de quatro quilómetros, com a mala no ombro.

- Que tal a gente pegar a mala e nos fartarmos? Sugeriu outro colega, cujo nome não me recordo. Mas estou quase certo ser um craque de bola, lá de Montanha, cidade fértil de craques. Como não me lembrar de Vovô, que depois de me dar uma caneta, chutou da entrada da área, para marcar o quarto gol contra o nosso time?

- É agora! Consenti sem titubear.

Calmo e silenciosamente peguei a mala e a levei ao terreiro, colado ao dormitório. Abri-a calmamente e a luz da lua iluminou seu interior. Lá estavam elas, lindas, amarelinhas e pedindo para serem chupadas. E assim fizemos em justa partilha. Talvez ali a gente tenha entendido o significado da distribuição justa. Quanto ao Valmir, cuidamos de deixar as mamuchas e as cascas na mala, para que ele entendesse o significado do egoísmo. Recoloquei a mala de volta sobre o armário do nosso colega, que dormia um sono profundo. Seu ronco ecoava pelo dormitório.

No dia seguinte ficamos observando os movimentos do Valmir. Quando ele abriu a mala... Bem, aí não me lembro o que aconteceu. Não sei se caímos na gargalhada ou se o mistério foi mantido. Mas que o colega ficou com cara de tacho, não tenho dúvidas.