Crônica geral do atraso

Eu amei um menino aos 15. Mas eu nunca quis um namoro de 15 ou 16 aninhos, eu quis pular a fase da insuportável insegurança, da primeira experiência de abandonar a infância, do gosto esquisito de lidar com um garotinho que irá pelas primeiras vezes assumir que deseja garotinhas publicamente, dos riscos.

Quis saltar sobre o pavor da entrega nos braços de um adolescente com reações inconsistentes, dos encontros limitados, da fuga das vistas dos adultos, dos beijos às pressas atrás da igreja e da escola, das chacotas dos coleguinhas. Não queria a opinião das mamães, a proibição dos papais, sem chororôs à la "Romeu e Julieta".

Mesmo enquanto muitos diziam que romances adolescentes lhe faziam bem, eu não os enxergava assim, doía imaginar o amor imaturo e proibido, mesmo sabendo que poderia ser correspondido -- iria doer ainda mais se fosse, eu pensava.

Guardei comigo os encantos, expus os recatos e alguns desacatos. Por pura ignorância, adiei a infância. Hoje transparece no espelho o garoto de 16 anos que eu temia, cheio de marra, preso no limbo a tentar saldar seu karma no supletivo da escola da vida, revezando do divã e da fatura do cartão de crédito para a barra da saia da mamãe e os acordes da guitarra.