Oswaldo, intelectual amigo e confrade
A amizade é a principal bússola do amor, por conseguinte da amizade. Procura-se esse caminho nas pessoas que amamos, agora, depois ou sempre. E por que não dentro da vida e, por mais tempo, na e após a morte, e ao longo dela, porque esse é seu maior tempo. Procuremos tudo o que amamos ou o que cogitamos amar, agora, eternamente agora, mesmo se os instantes são fugazes, nós acharemos em quem amamos o que somos. E assim, encontrando nós mesmos, acharemos Oswaldo, afável, sorridente e de braços abertos a nos acolher.
Conheci Oswaldo Trigueiro, na casa do dileto irmão Padre José Trigueiro. Tais encontros ocorriam, na casa paroquial da Igreja de Lourdes, de onde, com ele, lia e relia, na parede da esquina das Trincheiras com a João Machado, referência aos tempos em que os restos mortais do mártir Peregrino de Carvalho, ali, foram expostos por ter sido ilustre cidadão paraibano, com civismo, herói da Revolução de 1817. Então, Oswaldo demonstrava saber das coisas, da cidade, onde depois foi até Prefeito, e sobremaneira da política, daqui e do país. Eu era da Juventude Estudantil Católica (JEC) e me interessava por seus assuntos. Morreu e quando morre um amigo, como Oswaldo, a morte não deve ser um hiato, uma escuridão aos que permanecem vivos, pois a amizade é luz que não devém escurecida.
Nasceu ele, em Espírito Santo, terra então do poeta Augusto dos Anjos, numa família religiosa, de Anna Trigueiro do Vale e Demétrio Bezerra do Vale. Tanto é assim que havia seu tio Padre Antônio e seu irmão Monsenhor José Trigueiro do Vale, reitor ímpar e dinâmico construtor da Universidade Autônoma, transformando-a no Centro Universitário do Ipê, hoje atual UNIPÊ, história da qual participei. Nessa instituição, anos atrás, enquanto competente jurista, Oswaldo exerceu as funções de professor e de Diretor da Faculdade de Direito. Antes, nos cursos da renomada Fundação Getúlio Vargas, fundamentou seus conhecimentos, como gestor da Administração Pública e Privada. Oswaldo, como Secretário de Estado, muito contribuiu com Tarcísio Burity para a edificação do Espaço Cultural José Lins do Rego, hoje templo maior da cultura paraibana. Foi um intelectual de rica Weltanschauung, o que lhe proporcionava uma cosmovisão de mundo, onde cabiam o Brasil e a sua amada região nordestina.
Em Oswaldo, compreendiam-se sentimento e sensibilidade, o suficiente para se perceber sua alma de poeta, quando ele distinguia a beleza nas coisas, nos fatos e nas pessoas. Original, que continha em si criatividade; e ser poeta é ser incapaz de plagiar, porque as palavras emanam do mais recôndito sentimento. Na poíésis, há outra motivação, a falta. Um dia, assim tentando ser, escrevi: Se nada me faltasse, faltar-me-ia a falta... Inspirei-me também para dizer essas coisas, nos versos de Canção do Criador, do alemão Heinrich Heine, cuja sepultura tive a honra de visitar no Cemitério de Montmartre, em Paris. O poeta Heine escreveu que somente o momentâneo gozo da felicidade nos basta. Mas contradigo com nossa constante busca pela felicidade... Quando não, continuamos a criar. Até Deus só criou porque seu mundo já não era a realidade que Lhe bastava. Assim, Ele fez luz, terra, água, formas, cores, flores e perfumes, como se servisse, a si próprio, um banquete de belezas. Deus, na criação, não criou alguma coisa que já existia... Nossas palavras não criarão Oswaldo, ele já existia e continuará existir, no nosso meio. Não deixemos de compartilhar com a História e com a Academia Paraibana de Letras, Oswaldo Trigueiro do Valle.