Zé Ribeiro, o regresso
Já faz algum tempo. Mais de dois anos, certamente, que não o via.
Levado pelo senso coletivo, julgava-o morto. Sempre que perguntava por ele, as notícias eram fúnebres. Diziam-me que estava muito doente, com as taxas contrárias, tomando muitos remédios, em vez das costumeiras cervejas.
Assim, acostumara-se à ideia de que tinha morrido.
Agora, ao chegar a este primeiro andar, para meu encontro semanal comigo mesmo, e ao encontrar, do lado esquerdo e no fundo deste casulo sentimental, o Zé Ribeiro de Outrora, sentado confortavelmente e servido de uma Bohemia e asinhas de frango, me assoma ao peito e me invade todo o coração grande alegria.
Agrada-me a presença física e, principalmente, simbólica de Zé Ribeiro, que representa, para mim, em certa medida, aquilo que Gandhi e Dalai-lama representam para os pacifistas.
Zé Ribeiro talvez não saiba o que representam para a Humanidade Gandhi e Dalai Lama. Não faz mal não. Implícita e explicitamente, Zé Ribeiro os exercita. Zé Ribeiro é antibélico, antifascista, essencialmente amoroso com o planeta e conserva em seu íntimo o ardor de que a humanidade tem salvação.
Discordamos de muita coisa, principalmente às relativas a assuntos que desconhecemos. Ele, por exemplo, cristão convicto, acha que o ovo veio primeiro que a galinha. Eu, ateu declarado, sou de opinião contrária: ora se Deus criou todos os seres, e as galinhas se enquadram em tal quesito, então por que criaria primeiro o ovo, e depois a galinha?
Esforçamo-nos por evitar assuntos dissonantes, mas quando inevitáveis, a seu favor há sempre a presença do legado e da experiência de alguém que já viveu mais do que imagino alcançar, viu o que jamais verei e sentiu tantas sensações para mim inalcançáveis.
Zé Ribeiro, do alto de seus mais de 80 anos e de sua plantação de galinhas, certamente tem muito a nos ensinar.