NERO-AMIGO E COMPANHEIRO

Achei-o sobre uma ponte do rio que corta minha cidade, o Ribeirão Quilombo. Parecia ao longe um coelho. Devia estar vivendo embaixo da ponte, cuja margem estava tomada pelas aguas de uma enchente.

Desde que levei-o para casa se tornou um personagem quase humano.

Cresceu paparicado e olhem não era o primeiro cão que teriamos, pois Xodô, Xêreta e seus filhos Xips,Xinesa,Ximbica e seus netos Teco,o cão que falava e Teca fizeram por muito tempo a alegria de nossa casa.Sem falar do Mixim, um gato muiiiito esssperrrto e de Ninha, uma gata simpática.

Mas Nero foi e é especial. Faceiro, guardião, malandro do tipo Zé Carioca,protetor, interesseiro, dono do pedaco, divertido, nunca representou qualquer ameaca a ninguém, a menos que se aproximem de mim, seja lá qual intencão for, mas apenas soltando um leve rosnar, como a dizer "estou de olho". Uma bondade a toda prova.Intimida pelo seu porte, mas logo cai nas gracas de todos que o conhecem.

Seu nome, Nero, foi em homenagem a meu primeiro cão à mais de 40 anos atrás. Sua raca? Sei lá. Um belo mestico, que deve ter sido descartado, de porte medio . Sempre pesou em torno de 25 quilos,

mas hoje está com 35 . Obeso. Muito obeso.rsssssss. Mas nem sempre foi assim. Durante mais de 9 anos foi o meu companheiro de centenas e centenas de caminhadas por ruas, avenidas e parques .

Se não ia junto, ficava a choramingar. Era só eu colocar o tenis e lá estava ele a saltar , como a esperar frenetícamente por este momento.

E olhem que não era coisa de pequeno percurso. Era uma media de 8 km no mínimo 2 vêzes por semana. Chegamos a fazer um percurso de 23 km. Ele aguentou. Eu quase desisti. Mas eramos uma bela dupla de

caminhantes urbanos.

Pois bem , hoje Nero está com 13 anos. 72 anos na escala humana. A vida reservou-lhe surpresas: cegueira, diabetes, coracão dilatado [as caminhadas] e um tumor na bexiga.Exatamente como cópia de seres humanos que tiveram ou ainda a tem vida digna.Seria um "premio"por sua exemplar conduta.Mas sem ressentimentos. Nem meus. Nem dele próprio. Ele continua feliz.Continua ele , dentro de suas limitacões a ser o que sempre foi.Um exemplo de conduta , apesar da carga que carrega.Continua a minha sombra. Por onde me desloco dentro de minha casa ou outro lugar , lá está ele ao meu lado.

Sua pequena caminhada diária em frente a minha casa, dele tambem,

ainda é uma coisa sagrada. Esta hoje sua única revindicacão. E lá vai ele todos os dias ao anoitecer percorrer 50, 70, 100 metros no máximo,

para demarcar seu legítimo território, mesmo com as dificuldades,

mas tendo hoje o olfato e a audicão surpreendentemente evoluidos.

E volta feliz, leve e solto.

Obrigado Nero, amigo e companheiro por todos estes anos de fidelidade

e presenca durante os bons e principalmente nos maus momentos .

Permaneca entre nos durante muitos anos ainda. Voce é necessário. Ah! como é. Que bom seria se todos os humanos fossem assim.

MARVADO-091207