Toques inocentes
Toque de desesperado acordei com um passarinho batendo a cabeça na janela. A vida às vezes é irônica, e somo despertados pela ironia.
Olhei aquela cena e sorri, tomado pela tragédia da contradição. Mas nem tudo é contradição e nem tudo é tragédia. Há um novo dia que nasce, lembrando que há rotina, mas não somente ela. Há a possibilidade de encontrar um universo na casca de nozes ou no quintal de casa. Minhocas, lesmas e girassol.
Quem disse que nossas emoções e sentimentos devem ser reféns do último capítulo da novela? Quem precisa de novela se temos a vida todos os dias? Temos a alegria da grávida, o choro do bebê, as vozes na feira, o almoço compartilhado. Temos ideias, virtudes e vícios. Lutamos contra os vícios, enquanto nos fortalecemos com as virtudes. As ideias são combustível para o aprendizado.
Temos o mar que nos leva, leva e leva. Se aportamos, não nos conformamos com o porto. Queremos o vento, o som, o barco. Mesmo que em luta, queremos o peixe como companheiro. Mesmos velhos, ainda sonhamos.
E quando em um certo dia pensarmos que somos fracassados, e que estamos no lugar errado, pode até ser. E se for, que seja o fósforo que acende a lenha, que seja o anseio do inconformismo a salvação dos fracassados. “Ninguém é covarde em todos os aspectos” (C. S. Lewis).
Que o dia termine sem terminar. Que haja uma nova vida no dia seguinte, e no dia seguinte. Que este novo também seja velho para que a ingratidão não nos domine e não nos faça pensar que tudo é efêmero. O efêmero é inimigo da esperança.