Até o infinito

O silêncio não se guarda, ele se exala feito perfume de uma primavera tardia. A linguagem do silêncio supõe que a totalidade do discurso é inútil e, poder-se-ia aguardar um golpe e, então, fragmentar a realidade como se fosse átomos e moléculas em busca de alguma existência. Naquele dia, a rotina fora exaustiva e, para completar a mãe da moça se acidentou no banheiro e, ligou para seu celular, coisa que raramente fazia... Eles estavam num motel confortável, repleto de luxos e confortos e, o amante havia ingerido o maldito Viagra ... Mas, diante do telefonema, a mulher pediu desculpas e, saiu em socorro da idosa mãe. O amante ficou furioso. Iracundo. Ao pegar o táxi, a moça, na porta do dito motel, ouviu gracinhas do motorista. Ralhou e não ligou. Aliás, a opinião alheia jamais significava alvo de maiores preocupações. Afinal, a moça era considerada uma pessoa difícil, resoluta e, dotada de forte personalidade. O que significa que não era subserviente... nem dócil... Apenas reagia conforme a necessidade e as circunstâncias... E, na lição de Ortega y Gasset, "eu sou eu e minhas circunstâncias". Atendeu-se a pobre mãe toda esparramada no chão do banheiro e, ainda, catou-se os cacos da caixa de água do sanitário... Ainda bem que não havia se machucado. Ele, ainda irado, ligou para moça e, perguntou se precisava de ajuda para levar a mãe a algum pronto-socorro. Secamente, a moça respondeu que tudo estava bem, e desculpou-se por tudo e, desligou em seguida. Uma semana mais tarde, num encontro profissional, o casal se entreolhava, ele aquele olhar cortês. E, a moça dotada de alma indiferente, agradeceu toda a convivência, todas as emoções, mas o fim chegara com uma comitiva discreta e alegórica, coroada em silêncio e, só interrompido pelo instalar com dedos. Ama-se até a eternidade, porém, desama-se até o infinito. Ficaram amigos com ressentimentos reticentes.