Diário de um detento (Da Papuda)

Querido diário. Hoje inicio meus registros cotidianos na condição de preso político aqui na Papuda, pois futuramente, quando o Brasil estiver livre do comunismo, vou querer publicar um livro relatando minha experiência heroica e patriótica.

Meu nome é Policarpo. O nome, segundo o meu pai, é em homenagem a um personagem nacionalista de um tal de Lima Barreto, escritor de um livro chamado "Triste fim de Policarpo Quaresma". Não li o livro, pois eu prefiro ler postagens de aplicativos de mensagens e redes sociais. É uma forma íntima de fugir da manipulação da grande mídia esquerdista deste nosso país. Mas enfim, sei que o tal Policarpo era extremamente nacionalista, então, me identifico com ele.

Além de nacionalista, sou cristão, conservador e armamentista. E é por isso que estou aqui, pois os comunistas se infiltraram na suprema corte e estão punindo os cidadãos de bem que lutam por liberdade. Sim, a gente quis fazer uma manifestação pacífica em Brasília, mas os comunistas infiltrados quebraram tudo e sobrou para mim, um pacato cidadão... da civilização!

Mas todo o sofrimento não será em vão. Sei que o nosso capitão está mobilizando alianças internacionais lá dos Estados Unidos para que todas as injustas muralhas do autoritarismo comunista venham a ruir, e todo humilhado será exaltado. Isso é Bíblico!

Ontem um carcereiro me serviu macarrão, salsicha e frango empanado industrializado. Estão testando nossa resistência, ferindo nossa dignidade. Afinal, onde estão os direitos humanos nestas horas? Ah, o médico da unidade prisional me receitou uns psicotrópicos, mas isso é para me dopar e me tornar um detento alienado. Não vou ceder, estou cuspindo os comprimidos na privada da cela. Prefiro continuar lutando contra os duendes vermelhos comunistas que aparecem à noite para não permitir meu descanso em berço esplêndido. Eles ficam pulando, apontando para o meu rosto e caçoando do meu sofrimento. Um tem a cara do Xandão, outro do Lula, e um terceiro do Barroso. O último é ainda mais sarcástico: Fica gritando, o tempo todo - "Perdeu, Policarpo, não amola!". Mas enfim, eles não perdem por esperar, pois o capitão não dá ponto sem nó! Quando ele voltar, as muralhas ruirão e os humilhados serão exaltados. Deus, pátria, família e liberdade!

* O Eldoradense