Bondosas comadres
Era a forma com que se cumprimentavam, missivisticamente, as manas Rita e Conceição, terceira e quarta filhas de Vovó Inhana e de Vovô Velu... Ti-Rita, nascida em 1909 e Ti-Ção, em 1911. Ti-Rita era solteirona, vivendo com a mãe e irmandade, Vicentina, Isabel e Antônio, no Brumado de 1924 a 1958 e dali pra frente em Pitangui, e Ti-Ção, casada com Ildebrando, morando na Conquista, em São José da Varginha, na Conceição das Alagoas e, por fim, no Pará de Minas.
Se você, caro leitor, viu aquele filme O que aconteceu a Baby Jane (Whatever Happened to Baby Jane), tirante as maldades, teria ali um paralelo, singelo, tosco, pedestre, mas ao menos nas parecenças de Ti-Rita com Bete Davis, aquela pele clarinha, rugas precoces, e Ti-Ção com Joan Crawford, com suas grossas sobrancelhas e, paremos por aqui, senão, mesmo sem saber o valor ou o calor de uma tecla de piano, você leitor desaforado, vai acabar metendo-me na película como o Victor Buono...
pianista deslumbrado e aproveitador...
As cartas entre as manas Miranda eram até bem regulares naqueles anos 60, 70... e tia Rita se comprazia em reler-me as que recebia de Conceição, dando notícia do casal de filhos, primos Maria e Zenrique, do marido Debrando, das roças, das chuvas, dalgum achaque da saúde, e sempre perguntando e recomendando à mãe, Vovó Inhana. Não me lembra agora se tia Rita submeteu alguma de suas conversas epistolares ao meu crivo, antes de as envelopar...sempre, pra lá e pra cá, nos envelopes das bordas verde-amarelas. Mas estou seguro que ela falava de papai, da comadre Zezé, e da filharada que ia rompendo na escola... e o correio era bem previsível e confiável ...até na postagem de segunda classe.
Quando o telefone em nossa casa, que era vizinha de cerca, depois muro, apareceu, não de imediato, mas ao longo do tempo, as cartas foram raleando, assim como aqueles belos cachos que o ainda sindicalista Luiz Inácio ostentava e que hoje nos deixam carecas de saudades...