A trança
Na índia, Smita tem como profissão limpar as latrinas da classe superior indiana. Foi a profissão que herdou da mãe, e tenta evitar que sua filha Lalita seja a terceira geração da família limpando latrinas. Smita deseja ver a filha indo para a escola, mas é preciso pagar. Limpar latrinas rende apenas esmolas, mesmo assim a mãe dá o seu jeito.
No primeiro dia de aula, Lalita apanhou do professor por se negar a varrer a sala de aula na frente dos outros alunos. Todos também de famílias pertencentes a classes superiores. Foi o fim sonho de estudar e o começo do plano de fuga.
Depois de recuperar o dinheiro enquanto limpava a latrina da casa do professor, para Smita aquilo não era um roubo, e com o marido se negando acompanhá-las, mãe e filha fogem primeiro de bicicleta, depois de trem.
Precisam esperar na estação pelo trem que chega apenas noutro dia. Na Índia, sabemos que não apenas lá, para uma mulher e uma adolescente isto é perigoso. Decidem então visitar um templo onde podem passar a noite. Sem dinheiro para pagar a entrada as duas doam seus longos cabelos. Lalita chora. Smita consola a filha dizendo que o cabelo crescerá novamente.
Na Sicília, a matéria-prima do negócio do pai da Giulia é cabelos. A tragédia acontece. O pai sofre um acidente. Depois de passar dias em coma acaba morrendo. Mexendo nas gavetas da mesa do pai, Giulia descobre que estão falidos. É preciso encontrar soluções para o sustento dela, da mãe e da irmã.
Giulia viu quando Kamal foi preso. Seu coração disparou. Depois se encontraram várias vezes na biblioteca. Escondidos numa caverna, passaram a fazer amor todos os dias. Agora era preciso terminar com aquilo. Giulia escreveu uma carta terminando com Kamal. O indiano de cabelos compridos não aceitou o fim. Mais que isso. Trouxe a solução para salvar o negócio. Importar cabelos indianos para a fabricação das perucas.
Em Montreal, a advogada Sarah, descobre ter um câncer do tamanho de uma tangerina. Tenta esconder o fato. A fofoca de quem a viu no hospital não deixa. Começa então a pior fase da doença. A síndrome da exclusão. Todos se afastam. Parece ser uma doença contagiosa.
O ápice acontece quando o chefe a manda para casa. Sarah sabe que seus casos já foram para as mesas de outros advogados Depois de ser excluída pelos colegas do escritório e de passar algumas semanas depressiva, Sarah decide dar a volta por cima. Depois de se ver bonita no espelho, sai de casa para comprar uma peruca.
Com a limpadora de latrinas Smita, passando pela amante sem pudor Giulia, indo até o nariz empinado da Sarah, com “A trança” (Editora Intrínseca), Laetitia Colombani cria uma ficção magistral. Ele consegue desnudar os egos e também as almas dessas três mulheres mostrando a beleza que se esconde nelas com um primor incomparável.