A crônica do dia
A crônica do dia! É no que estou pensando, depois que fiz o acordo comigo mesmo de escrever uma todos os dias, durante, sei lá!, sempre. Mas os temas são escassos, ou pior, falta-me assunto, inspiração, que é o que faz com que a arte exista e, principalmente, a arte da escrita. Todo esse tempo, pensando em coisas variadas, não me veio à cabeça uma ideia boa sequer. Tudo bem, não é momento para reclamar, julgar o mundo e a sorte. É tempo de paz e amor, com a vida e com a escrita. Além disso, ou apesar disso, ainda há tempo, agora que são 9h, e qualquer coisa eu desisto dessa loucura e vou fazer algo mais produtivo.
O cronista depende da vida, assim como da escrita. Uma está ligada a outra e as duas se unem, porque o tema principal de algo tão pouco duradouro é, necessariamente, a vida e sua constante mudança, suas reviravoltas. O escritor, o cronista, principalmente, não pode fugir dessa regra, mesmo que a vida se disfarce, às vezes, de outra coisa, tudo depende da relação do homem com o seu mundo e suas perspectivas, suas realizações, seus sonhos. Assim que se percebe cada movimento e a mudança que esse movimento proporciona.
Quem chegou até aqui já deve ter percebido que o tema é um pouco, ou muito, fugidio. É mais ou menos nada com nada, porque para ser tudo com tudo, precisaria de muito mais ingredientes. Para fazer um prato realmente bom, é necessário acrescentar muito mais coisas. A palavra coisa, por exemplo, é a palavra com mais significados que eu já vi, no tempo em que eu olhava o significado das palavras em dicionários impressos, era enorme, quase que não se podia mexer com ele, de tão pesado. Hoje, “dou um Google” e pronto, eis o que eu gostaria de saber. Simples e fácil e, talvez, embrutecedor.
A crônica do dia poderia ser algo mais proveitosa, como uma receita de bolo. Um bolo gostoso, mesmo que eu não soubesse fazê-lo. Normal, nem todo mundo tem o dom. Ou uma lista com as melhores músicas da vida; da vida do cronista, claro. Mas alguém já disse por aí que toda lista é burra (acho que ninguém disse isso). E é mesmo. Lista só mostra o gosto de quem fez a lista. Então, uma lista com os livros do século, representa os melhores livros do século para a (s) pessoa (s) que fez, fizeram, a dita lista. Ainda rima, ou quase.
Nas regras de como se encerra um texto, o que está escrito no encerramento? Preciso de um “fecho” para esse aqui. Uma chave de ouro, como é chamado o último verso de um soneto. Há, inclusive, soneto que tem o início de sua criação justamente com a chave de ouro. O poeta escreve o último verso e o restante do poema acontece normalmente. Coisas da inspiração e da poesia. Na prosa, parece algo mais complicado. Talvez Rubem Braga, que foi mais poeta do que cronista, pois suas crônicas eram verdadeiros poemas, tenha feito algo parecido. Tenha começado um texto por seu fim. A última linha e o texto apareceu como mágica. Ah, se pudesse realmente ser assim. Tudo o que eu queria hoje com esse texto infinito e impossível. Mas, enfim, eis a crônica do dia.