Problemática

Todos sem exceção têm problemas, é inerente ao fato de estarmos vivos. Gente feliz tem problema e a infeliz então nem se fala, essa tem os que a gente vê e outros que só ela sabe. Se ele é mais ou menos grave depende de um consenso, mas também do ângulo de visão. Entre o pessimista e o otimista creio que ser realista é a melhor opção, no entanto a realidade às vezes se assemelha muito ao pessimismo porque o mundo e as pessoas estão muito complexos. Hoje se sofre em público nas redes sociais fazendo vídeos e posts altamente catárticos e os posts dos problemas, dependendo da categoria, gera até mais curiosidade, pode até viralizar gerando monetização, dinheiro. Lembro das videocassetadas do programa do Faustão, um bando de gente se lesionando em acidentes domésticos, quebrando ossos ou coisa pior enquanto o público parava tudo para assistir dando risada beirando o sadismo. É lógico que o quadro veio dos EUA, a famosa “Candid Camera”, desgraça alheia vende ou então não existiriam publicações sensacionalistas nem haveria engarrafamentos imensos só porque aconteceu um acidente na rodovia, as pessoas acham interessante toda a desgraça que não seja a própria.

Então, quando nos sentimos acossados pelos problemas como numa panela de pressão, pensamos em abrir a válvula para descomprimir, tentando praticar um hobby, um esporte, ver um filme bonito ou ligar para um amigo que não dê lição de moral, pois até os sermões de igreja têm se modernizado, ninguém aguenta, são capazes de piorar a situação ainda mais. Porém os problemas não respeitam mais o inferno astral como antigamente (o clássico mês antes do aniversário de cada um), acontecem o ano inteiro e não aguardam a sua tropa, chegam sem pedir licença dia e noite atropelando tudo.

Problema é como elevador em prédio comercial às seis da tarde: o elevador já está lotado deles, mas se parar em algum andar as pessoas (mais problemas) vão forçar a entrada desesperadamente sem o menor respeito. Não fazem fila nem aguardam chegar a sua hora, são ansiosos e sem educação. O resultado é que todos ficam mais espremidos correndo o risco de ir todo mundo para o poço. Aliás, a metáfora que no fundo do poço tem uma mola que impulsiona é furada. Precisamos dar graças a Deus se o freio de segurança e os cabos estiverem com a manutenção em dia e de fato não houver uma colisão com o planeta, pois não existe mola no terreno físico nem no figurado. A mola é ter muita raça para dar rasteira no azar, porque quem faz dos problemas uma vacina não perde a serenidade quando aparece outro, mesmo que mais apavorante. Acho que o medo tem um cheiro que os problemas gostam como aqueles que os animais predadores sentem na sua caça. A coragem os afugenta, sinalizando que não vamos deixar barato e lutaremos. Aliás, é também um clichê dizer que é melhor ter problemas e estar vivo para resolvê-los do que a outra opção, a nefasta. Concordo.