Sourire Blasé

Não tem nenhuma beleza física excepcional, mas é bonita, a seu modo. E de alguma forma, por algum motivo, chama a atenção. Sua pele, coberta de sardas, é duma brancura sem igual, alva como neve, e o cabelo escuro como a noite. E seu olhar misterioso, um misto de desdém e curiosidade, que parece ora frio, ora amistoso, é o que mais me atrai nela. Às vezes tenho vontade de olhá-la de novo, pra então me dar conta de que ela não é tão bonita e eu me pergunto por que ela me prende a atenção, para mais tarde, no mesmo dia, olhando por um ângulo diferente, com iluminação diferente, eu perceber que ela tem de fato um charme singular. Feito uma obra de arte.

Não parece ser extrovertida, tampouco tímida. Fala o necessário, com desenvoltura e sem constrangimento. Mantém um semblante sério, porém sereno, despreocupado. E quando lhe convém, deixa escapar um sorriso blasé – que em contraste com sua aparência e comportamento tem a capacidade de despertar as mais variadas reações em quem a encara, que variam desde um sorriso tímido até uma tentativa (sempre fracassada) de se mostrar indiferente. Despeito? Inveja? Não se sabe. É sabido que seu sorriso discreto constrange. Mas quanto a isso, já não sei por quê. Na verdade, ninguém sabe o que se passam por trás daqueles olhos misteriosos quando ela sorri. A destreza de causar múltiplas reações e sentimentos com a mesma expressão facial. A capacidade de (ao mesmo tempo!) perturbar, fazer repensar, comover e seduzir... como só as obras de arte são capazes.

Assim como eu não tenho certeza se ela percebeu que eu ando olhando pra ela, ou se ás vezes em que ela me olhou foram por acaso ou se ela também reparou em mim. Ou talvez eu esteja delirando. É difícil dizer algo com certeza, é difícil esboçar uma teoria sólida e objetiva: ela transborda subjetividade. Não é possível ter opinião formada nem conhecimento profundo sobre ela.

Assim como as obras de arte.