Saudade, ou: porrada, empurrão, solavanco, queda, briga, tropeço, galo, batida na quina, essas coisas.
Eles não tavam brincando, não tavam mesmo. Eles eu digo as pessoas que falaram pra mim como ardem as coisas do coração. Todo aquele exagero, a chatice, o dramalhão hiperbólico. Tudo verdade. Pra mim não, falaram pra si. Os outros uma hora cansam de ouvir, e sua voz vai calando, calando, calando.
Antes de começar mesmo, aqui um disclaimer. Primeiro: Obrigado por gastar seu tempo com as bobagens que escrevo. Segundo: Nada do que vai ler nos próximos o que...? Oito minutos, faz o menor sentido. (Cálculo de tempo completamente aleatório)
Já pararam pra pensar sobre a cara? Digo, o crânio. O escudo ósseo que contém a cachola, as órbitas, se veste de pele, e dá o formato do rosto que aguenta a gente todo o dia, pra então vir um cara e dizer :"Vixe, mas que cara feia, cara", ou o pai dizer em protesto pra filha: " Que cara emburrada é essa?" E a menina suspirar em zangação. Ou então o que se diz pro céu quando ele tá assim, palidinho. "Acho que tá é com cara de chuva" . A cara, dizem, serve como porta de entrada, janela, cartão. Eu já acho que não. Há alguns em que o olhar cansado se acostuma ao rosto, o que não traduz em nada tal pessoa. Mas quando falam...ah! Tem gente que quando fala é vividez. Uma vividez tão viva que lembra a gente que vai acabar, um memento morri humano e que machuca em cada vírgula. É sobre isso a saudade, eu acho. (Ahh! inclusive, no dia de hoje em que publico, é seu dia.)
O crânio, ele serve mesmo é pra proteger as coisas que tem dentro dele de choques mecânicos. Porrada, empurrão, solavanco, queda, briga, tropeço, galo, batida na quina, essas coisas. Só não protege de saudade. Isso. Experimente escrever a palavra saudade num tijolo e então arremessar em quem você ama, em quem você sente. Saudade vai doer, doer bastante. (Brincadeira, não arremessem tijolos em ninguém, foi só figura de linguagem)
Outra coisa interessante sobre o crânio é que o cérebro em si, não sente dor.
Se o meu doutorado em bobagem com especialização em coisa nenhuma não tá errado, o cérebro não tem terminações nervosas. Ou seja, quem sente dor mesmo mesmo, se permitem a licença poética,
Não é a cabeça,
é o coração.
É aí que eu digo, quem tá pra interceder pelo coração? Acobertá-lo como osso duro e resistente contra os calafrios, a quentura das palavras, o esmagar da poesia, da lembrança, dos afogamentos sem água? QUEM?
Ah, eu gritei, foi?
P-perdão, perdão, é que falar dessas coisas me deixa assim, estranho. Deixa só eu pegar um café.
Já deve estar de saco cheio. Vou falar então sobre uma bobagemzinha, uma que tenha porrada, empurrão, solavanco, queda, briga, tropeço, galo, batida na quina, essas coisas:
O twitter.
É, eu acho maravilhoso como lá, qualquer grãozinho de assunto, vira uma montanha de outras coisas. É por isso que tem que acabar o jovem, acabar a liberdade de expressão, acabar a rede social, aliás, acabar as redes, aquelas de dormir, tem acabar o sono também, porque quem dorme é privilegiado, tem acabar o ketchup na pizza, pois pizza não é sanduíche. Pizza no Brasil? Apropriação. E por aí vai...
É assim que um diálogo acontece, e eu não vou julgar, acho maravilhoso esse fluxo de consciência desenfreado, é basicamente o que eu já faço aqui, não é?
Cheguei nisso, pois de madrugada, um casal de gatos me assombrou.
Foi, me despertaram com ganidos, palavrões e impropérios, tudo na língua dos felinos que óbvio, a gente não entende (ao menos eu não). Fiquei numa fabulação de se perguntar que fez o gatinho, pra ser alvo assim de desaforo. Ou será que, na verdade, esse é o jeito tóxico dos gatinhos de dizer eu te amo? Vai saber, vai saber...Só sei que os miados foram rasgando a noite, machucando o crânio até ir calando, calando e me deixar acordado.
E daí, uma vez acordado, comecei a pensar sobre o formato do rosto das pessoas, sobre o formato do rosto de certas pessoas, pesquisar sobre o cérebro, comunicação entre os gatos, scrollar o twitter...
e comecei a ter saudade.
Mas acho que agora tenho que ir, já são quase três da manhã.